O Primeiro Seminário
O Prince encontrou um lar onde é muito amado, a D. Maria encontrou uma nova vida; novos interesses, novos amigos, até comprou um computador para trocar mensagens e fotos do Prince com os amigos e família.
Chegou a Primavera e a vida da D. Maria florescia por todos os lados.
Encontramo-la de manhã, a chegar ao emprego, apressada, como todos os dias.
É nesta altura que algo tem de acontecer, de contrário a história corre o risco de perder o interesse. O que é que vai acontecer?
Passaram uns meses e o Prince está irreconhecível. Nada resta do destroço de cão que era. O pelo está fofo e bem cheiroso, o olhar brilhante, a cauda constantemente a abanar.
Também teriam dificuldade em reconhecer a D. Maria se a vissem. Anda mais ligeira, mais sorridente. Mostra as fotos do menino a torto e a direito e tem sempre histórias para contar; como o Prince é esperto, como é meigo, como parece compreender tudo o que ela lhe diz…
Regressa a casa numa ânsia de abraçar o Prince. Até conseguiu, no emprego, diminuir o intervalo de almoço, só para poder sair mais cedo e ir passear o seu querido Prince.
Nesses passeios, principalmente os mais longos ao fim de semana, a D. Maria encontra outras pessoas que passeiam com os cães. Enquanto os cães se cheiram, ela troca histórias com os recem conhecidos e faz amizades.
Aprende muitas coisas sobre cães, tem uma curiosidade inesgotável e quer sempre saber mais.
A D. Maria não compreende como foi possível passar toda uma vida sem conhecer a maravilha que é o amor de um cão, amar e ser amada sem condições, sem expectativas, apenas desfrutar o prazer de estar juntos.
Não, se encontrassem a D. Maria, de certeza que não a reconheceriam!
Deixámos a D. Maria com as atrapalhações habituais de que se vê numa situação nova, o banho, as pulgas e carraças, o veterinário fora de horas, o frango cozido com arroz, as mantas para fazer a cama…
Não sei se imaginam, mas eu vejo a D. Maria a perder-se de amores pelo cão. Vejo-a na loja de animais a comprar trela e coleira a condizer, uma escova para o pelo que já começa a crescer, uma cama da cor dos sofás da sala, mais uns brinquedos e guloseimas.
Pode parecer exagero, mas encontro a D. Maria a comprar uma máquina fotográfica digital só para tirar fotos ao seu menino, o seu bebé, o seu principezinho. Não é por acaso que o cão se chama Prince, ele é tratado como um príncipe e a D. Maria rejuvenesceu, encontrou um novo interesse na vida e está feliz.
(o título fica por conta dos leitores, aceitam-se sugestões)
A D. Maria, personagem saída da minha imaginação, regressava a casa depois de um dia de trabalho. Metro, comboio, autocarro, todos a abarrotar de gente à hora de ponta, mais os sacos das compras que fizera no intervalo do almoço, as meias salpicadas de lama, o guarda-chuva, a chuva, o vento… Felizmente estava a chegar, só mais dois quarteirões e estaria em casa, descalçaria os sapatos molhados, atiraria os sacos para a bancada da cozinha, despiria a roupa húmida e entraria numa banheira cheia de água quente. Só mais dois quarteirões…
Não sei se por acaso ou por acção de algum deus menos distraído, o olhar da D. Maria desviou-se das poças de chuva do passeio e pousou num ser desgraçado que se encolhia e tremia de frio num canteiro sem flores. Um cão! Ou melhor, o que restava de um cão. A pele, sem pelo, mostrava todos os ossos, os olhos remelosos fitavam a D. Maria como que se despede da vida.
Ora, a D. Maria nunca tinha convivido com cães, em criança insistira com os pais para que lhe dessem um, mas sem sucesso, e, naquele momento, a única coisa que queria era chegar a casa e meter-se num banho.
Talvez fosse por se ver confrontada com um ser que dava todos os sinais de se sentir ainda pior que ela própria ou talvez fosse mesmo por acção divina, o certo é que o milagre aconteceu.
A D. Maria segurou o guarda-chuva entre o pescoço e o ombro, transferiu as compras de um saco para os outros e, com o saco vazio, meio receosa, meio a sentir que não sabia o que estava a fazer, pegou no cão encharcado, encostou-o ao peito e seguiu para casa.
Cão como eu gosto
- Gosto tanto deste cão! Ele é tão maravilhoso…
- Ora, tu gostas de todos os cães, dizes sempre a mesma coisa.
É verdade, gosto de todos. Porque não haveria de gostar?
Nunca conheci um cão que fosse maldoso, rancoroso, sacana, filho da mãe… Não há como não gostar!
Mas não gosto de todos da mesma maneira, isso não. Cada cão é diferente e encanta-me de modo diferente. Costumo dividi-los em três categorias: os bons, os muito bons e os excepcionalmente bons.
O Zeus é um dos poucos que considero excepcionais.
Gostava que a minha máquina fotográfica funcionasse para vos mostrar como é lindíssimo! No entanto, não é pela beleza física que me conquista. É pelo comportamento exemplar, pela calma, pela obediência, pelo modo como se relaciona com os outros cães e comigo.
Quando chegou, sentiu-se logo em casa, não estranhou, não chorou a ausência dos “donos”. Deitou-se no chão da cozinha e ficou a arfar com o calor.
Ele é tão calmo que até a Girassol o aceita muito bem e desde o primeiro dia que o deixa entrar no meu quarto.
Sinto-me perfeitamente tranquila com ele; sei que não vai entrar em brigas.
De vez em quando, pousa a patorra em cima de mim e diz-me: - Dá-me mimos, sim?
- Claro que sim, meu amor, claro que dou!
A Herdade
Quando a rua acaba começa um caminho de terra batida, rodeado de sebes de amoreiras, espinheiros, muros de pedra. À esquerda e à direita, há campos, vinhas, pinheiros, uma pereira, flores. A minha amiga Isabela chama-lhe a Herdade.
O nome pegou e, ao fim do dia, reúno os cães e digo-lhes, vamos à Herdade! Também podia dizer, vamos às carraças! Mas prefiro manter uma atitude positiva e gosto de imaginar-me latifundiária, como se todos os campos fossem meus, desde o fim da rua até ao mar lá ao fundo.
Na Herdade há pássaros, borboletas, coelhos, cobras e, de vez em quando, aparece um ou outro gato mais aventureiro.
De todos os cães, o Talibocas é o mais caçador. Desaparece entre os espinheiros onde me é impossível segui-lo, depois regressa feliz da vida, a abanar a cauda. Por vezes, traz manchas de sangue e arranhões no focinho, nem quero imaginar o que se passa, limpo-lhe o sangue, desinfecto os arranhões e peço aos deuses que sejam clementes. O que é que posso fazer?
Ontem, não tive como ignorar o que se passou. O Talibocas desapareceu entre os espinheiros, como habitualmente, mas alguma coisa me deixou apreensiva e decidi encurtar o passeio e voltei atrás, chamando por ele.
Apareceu com um coelho bebé na boca. O coelho estava morto, o Talibocas, feliz.
Deitou-se no meio de um tufo de ervas altas a comer o coelho. Eu fiquei afastada, gelada, ocupada em manter os outros cães perto de mim, sem saber que mais fazer.
Regressámos a casa, por fim; os cães felizes como sempre, eu preocupada. Que faço? Devo levar o Talibocas de trela?
Sei que aqui não há maldade, apenas instinto, mas não gosto! Não gosto mesmo!
Agressividade e Dominância (as minhas histórias)
Sobre dominância há uma história que me contaram e que nunca me esqueci. Impressionou-me imenso pela crueldade e riqueza de pormenores, aos quais vos pouparei.
Foi há muitos, muitos anos, ainda o Cosmos era vivo. Tinha encomendado a um marceneiro umas arcas com rodas para guardar roupa debaixo da cama e ele foi entregá-las a minha casa.
O Cosmos recebeu o marceneiro com a alegria que reservava para as visitas e a conversa virou para o tema dos cães que são grandes amigos, companheiros de vida. Disse que o Cosmos já era velhote e ele também tinha um cão velhote.
- Veja lá, minha senhora, que me propuseram trocar o meu velhote por um cão novo. Como se fosse uma cadeira! Como se eu fosse capaz!
Concordei calorosamente. Talvez por esse clima de concordância, a história que me contou a seguir deixou-me tão impressionada que ainda hoje sinto um nó no estômago ao recordar.
Um cão dele mordera-lhe e o senhor reagira batendo no cão. Bateu e bateu e bateu, tanto que o cão ficou moribundo e foi o filho dele que acabou de matar o cão para lhe poupar aos últimos sofrimentos.
Este é um claro caso de dominância, não da parte do cão, nem sei em que circunstância mordeu ao “dono”, mas da parte do marceneiro que lhe deu uma tareia fatal porque “não admito que um cão meu me morda”!
Há uns meses, o Manuel mordeu-me. Foi uma dentada forte que me deixou a ver estrelas e andei com a mão pendurada durante uma semana. É bom que fique claro que o Manuel não é um cão agressivo, aliás é extremamente sociável, e quem o conhece sabe disso. Mas, na altura, ele estava zangado porque o Zorba estava no lugar dele. Rosnou ao Zorba e eu intervim. Levei uma dentada!
Contei a história a alguns amigos que reagiram de uma maneira que me surpreendeu:
- Mas é claro que lhe bateste!
- Esse cão precisa de apanhar!
Porquê? Não percebo. O que é que ia adiantar eu bater ao Manuel depois de ele me morder? O que é que ia conseguir com isso? Levar outra dentada?
Claramente o erro foi meu; intervim da maneira errada. Quando o Manuel me mordeu nem sequer tinha consciência que era a mim que estava a morder.
Aprendi com o meu erro. Agora estou mais atenta aos sinais, intervenho mais cedo e não uso as mãos!
Agora compreendo melhor os cães e espero, no futuro, compreender ainda melhor.
Espero ansiosa pelo próximo seminário para aprender mais sobre estes temas com a Cláudia porque, para pessoas que, como eu, lidam com cães, o melhor é saber o mais possível sobre eles.
Agility em Belém
Ontem passei um dia maravilhoso a assistir a um campeonato de agility. Nunca tinha visto ao vivo e adorei o espectáculo.
É absolutamente espantoso o nível de atenção que os cães prestam ao condutor da prova. Além disso, é sempre um prazer ver cães a correr e a saltar!
Apesar da dificuldade da prova e da exigência técnica (concorriam para o mais elevado escalão) foi bonito ver que a boa relação entre cães e condutores não era afectada pelos resultados e que, no final das provas, os cães eram devidamente recompensados pelo esforço com muitos mimos e com os brinquedos favoritos.
Para mim, isso é o mais importante, que as pessoas e cães pratiquem este desporto com prazer. Uma boa relação de cooperação entre cão e condutor é muito mais valiosa que qualquer medalha ou taça.
Agressividade e Dominância - Programa
AGRESSIVIDADE
Agressividade
O que é a agressividade nos cães?
Agressividade como problema comportamental
Tipos de agressividade
Agressividade defensiva
Agressividade redireccionada
Agressividade com pessoas/estranhos
Agressividade com animais (cães, gatos, etc.)
Agressividade e quadros médicos
Quadros médicos que propiciam agressividade
Medicamentos usados no tratamento de casos de agressividade
A procura de ajuda no veterinário
Sinais comunicativos caninos
Sinais de apaziguamento
Sinais de distanciamento
Supressão de sinais e consequências
Condicionamento clássico e operante
O que é o condicionamento clássico
O que é o condicionamento operante
Os 4 quadrantes de ensino
Uso de castigo positivo e reforço negativo na abordagem de problemas agressivos
Dificuldades
Consequências
Flooding
Learned Helplessness
Técnicas de resolução de agressividade
O que é o modelo A-C-C?
Como determinar o A e os Cs
Entrevista
Técnicas de resolução de problemas de agressividade
DOMINÂNCIA
Dominância
Conceito de dominância
Conceito de dominância no mundo dos cães
Origem do conceito de dominância
Hierarquia
Conceito de hierarquia
Tipos de hierarquias
A hierarquia nos cães
Os lobos e os cães
Origem e evolução dos cães
Semelhanças e diferenças entre cães e lobos
O lobo na sala-de-estar
Teoria da dominânica
Teoria da dominância no treino canino
Consequências no relacionamento com cães
Falhas da teoria da dominância
Ciência da aprendizagem na abordagem de casos de agressividade