Incompreensível



Hoje estive na Exposição Canina de S. João das Lampas.
Quando cheguei lá estava a decorrer uma prova em que participava uma cadela dogue argentino. Via-se que já tinha tido muitas ninhadas pelo tamanho das maminhas.
Fiquei com os olhos fixos nela, a pensar na Spring e vieram-me as lágrimas aos olhos.
Como é possível amar tanto uma cadela?

“When Pigs Fly!”




De Jane Killion é um livro sobre cães e treino de cães, bem-humorado e muito divertido. Ainda só li os três primeiros capítulos e estou a adorar.
A autora tem a rara capacidade de misturar dados muito científicos com questões do dia-a-dia de um modo muito simples e com grande sentido de humor.
O resultado é que a leitura deste livro ora me provoca uma boa gargalhada, ora me explica aquelas coisas que nunca ninguém me tinha explicado.
Um exemplo: estudos neurofisiológicos demonstram que o som do clicker é processado numa parte diferente do cérebro (a amígdala) que as palavras (que são processadas no córtex), o que explica porque é que o treino com clicker resulta melhor que quando é usada uma palavra como marcador.(*)
Quanto a exemplos de boas gargalhadas…leiam o livro, sim?


(*) Pryor num artigo intitulado "The Neurophysiology of Clicker Training".

O Lord foi-se embora ontem.

Quando o Rui o veio buscar ficamos um bocadinho a falar sobre cães em geral e sobre o Lord em particular. Gabei o comportamento do Lord e o Rui contou-me que quando ele era cachorro teve o cuidado de fazer uma socialização activa, ou seja, levava-o a parques e às praias para que ele tivesse contacto com outros cães, com pessoas, com crianças… Também teve o cuidado de o ensinar a andar na trela sem puxar, a sentar sob comando e a largar o que tivesse na boca.
Todos esses cuidados fazem do Lord um cão seguro, apesar do tamanho e da força que tem.
As vantagens de se viver com um cão seguro são inúmeras, podemos levar o cão onde quer que seja e estar tranquilos que ele não irá atacar outros cães ou pessoas, podemos pedir-lhe para se sentar enquanto ficamos na esplanada a ler o jornal, podemos passeá-lo sem trela e por aí fora.
Fiquei contente por ter conversado com o Rui, por ter encontrado uma pessoa com sentido de responsabilidade para com o seu cão. Oxalá toda a gente fosse assim!

Métodos de Treino


Um excelente e esclarecedor artigo sobre dominância, agressividade e os métodos que alguns treinadores usam para lidar com esses comportamentos.

O tempo gasto na preparação é ganho na acção.

momentos felizes

Há muitos, muitos anos, trabalhei numa empresa chamada Dynargie que se dedicava a formação no âmbito empresarial. Num dos muitos seminários da empresa era citada uma frase de que nunca me esqueci: “O tempo gasto na preparação é ganho na acção.”
Não me lembro quem era o autor, nem a que é que ele se referia, mas sei que é uma verdade absoluta em relação ao treino de cães.
Quando se trata de ensinar ou modificar determinado comportamento a um cão não há atalhos possíveis, apenas trabalho, muito trabalho e mais trabalho.
Tudo se consegue, desde que seja fisicamente possível para o cão, até fazer o pino! Eu já vi e tenho testemunhas.
Como já uma vez aqui escrevi, ensinar um cão é como aprender a ler: ao princípio custa muito, à medida que vamos praticando torna-se mais fácil e, no fim fica para toda a vida!

Só sei que nada sei!

um dos participantes no primeiro seminário...

Gosto desta frase, mas reformularia; quanto mais sei mais me apercebo da imensidade do que me falta saber!
Esta é a minha realidade de todos os dias porque todos os dias aprendo algo novo. Aprendo com os cães, com os livros, com os amigos, comigo mesma.
Não se trata de gabarolice; sou profundamente humilde, às vezes até demasiado para me levarem a sério.
O que me espanta, e não consigo para de me espantar, é a confiança que algumas pessoas têm no seu saber de ideias feitas e lugares comuns. Dizem-se as maiores barbaridades com convicção e não se questionam, aceitam-se!É verdadeiramente espantoso e insuportavelmente perigoso! Questionar é absolutamente necessário! Por favor, nunca deixem de o fazer.

Lord, a bola e eu


O Lord é o rottweiller mais lindo que já vi! Para os que se abespinham com esta afirmação, posso acrescentar que não tenho tido muito contacto com rottweillers, para todos os outros vou tentar arranjar fotos!
O Lord tem uma paixão: a bola! O que foi simpático, ao princípio, pois facilitou a nossa relação; eu atirava-lhe a bola, ele ficava feliz e eu também.
Depois o Lord passou a considerar-me uma atiradora de bolas e assim que me via corria para ir buscar a bola para eu atirar. Como apanhar a bola é o máximo ponto da existência do Lord, ele começou a apresentar um comportamento indesejado: chorava e arranhava as portas para vir ter comigo e jogarmos a atirar a bola.
Experimentei trazê-lo para o meu quarto e fazer-lhe festas e companhia. Qual quê? Não parava quieto à procura da bola; é que o jogo, para funcionar, precisa de dois elementos: eu e a bola!
Decidi que precisava mudar o meu comportamento de forma a alterar o comportamento do Lord. Agora estou com ele muitas vezes sem lhe atirar a bola e, quando decido jogar, jogo até ele não poder mais de cansaço. É difícil, mas consigo!
Já noto que o Lord já não chora tanto, nem está tão obcecado em estar comigo, pois já percebeu que eu não significo brincadeira. Felizmente, a minha estratégia está a resultar porque as portas não resistiriam muito mais!

O Oito e o Oitenta


Este blogue nasceu para escrever sobre cães; os cães da Casa e os que por cá passam. Também aqui tenho falado de outros cães, de todos os cães, principalmente os que mais me doem; os esfomeados, acorrentados, infelizes.
Está na altura de falar nos felizes, aqueles a quem nada falta; nem comida, nem conforto, nem companhia. Aqueles que têm algo mais; a coleira a condizer com a trela, os passeios especiais de fim-de-semana, o treino, as festas de aniversário…
A algumas pessoas pode parecer um exagero, mas eu compreendo muito bem. Parece-me natural que as pessoas celebrem a alegria de compartilhar a vida com cães com momentos especiais. O cão pode não compreender o conceito de aniversário, ou do Natal, mas percebe a alegria das pessoas reunidas e aprecia – oh se aprecia! – as guloseimas que lhe dão.
Por isso, quando a Filipa decidiu dedicar-se à confecção de bolos próprios para cães eu fiquei contente. É sinal de que os cães se integram nas celebrações dos humanos e que os humanos celebram a vivência com os cães. Acho que o trabalho da Filipa vai ser um sucesso!

Girassol


Hoje a Girassol foi ao veterinário. Nada de especial a levou lá, foi só fazer umas análises para saber se está tudo bem que a idade não perdoa.
Aproveitou a oportunidade para fazer uma radiografia às patas posteriores porque dá sinal que alguma dor a incomoda. O resultado foi excelente, tomara que fossem todos assim, disse o Dr. Paulo. Não tem sinais de artroses, pelo que a tal dorzita pode ser muscular.
Os resultados das análises devem chegar na sexta-feira, estou confiante que vai estar tudo bem porque esta cadela-flor é uma resistente.

O Cão


Esse animal maravilhoso que se deita aos nossos pés e lambe as nossas mãos


Um cliente disse-me uma frase que nunca mais me esqueci: “cão é cão”! Impressionou-me como a noção dele do que é um cão, ou melhor, de como um cão deve ser tratado, diferia tanto da minha.
Entretanto, tenho usado o meu tempo para descobrir e aprender mais sobre os cães. Descobri que viver com cães, viver dedicada a eles não é suficiente. É preciso aprender mais, assistir a formações, ler livros, pesquisar na internet…
Tenho aprendido muito, o que me ajuda a perceber o quanto mais me falta saber. Já não vou em conversas de saberes feitos, daqueles que me dizem que é assim porque é, porque já o pai e o avô diziam que é assim. Peço explicações, provas, estudos científicos que o demonstrem. Abri a porta do conhecimento e a minha curiosidade é insaciável.
Todas estas novas informações fazem-me questionar as ideias comuns que as pessoas comuns têm sobre os cães. Vivemos com eles toda uma vida, somos companheiros há milénios e não sabemos quase nada sobre a essência dos cães. Aliás, temos todo um conjunto de ideias fabulosas baseadas em histórias de encantar e filmes e séries televisivas que não se prendem com a realidade dos cães, mas sim com um imaginário colectivo.
A senhora Jean Donaldson que escreveu um excelente livro sobre cães, chamado Choque de Culturas, diz, a páginas tantas, que considera perturbante que o valor dos cães seja baseado em mitos e exageros, como se eles não fossem suficientemente bons. Que o seu valor vem do que são realmente, da sua “dogginess” (não consigo traduzir esta expressão). Que os cães valem e são maravilhosos como são.
Pode parecer que estou a exagerar. Talvez esteja. Muitas pessoas vivem felizes com os seus cães e fazem os cães felizes. Podem não saber muito sobre cães, mas amam-nos e são sensíveis às suas necessidades.
Por outro lado, há muitas outras pessoas que decidem ter um cão sem saber nada sobre o que é um cão. Todos sabemos de demasiadas histórias em que esta situação tem um mau resultado. Não é que façam por mal, mas os resultados podem ser realmente catastróficos.
Um exemplo: adopta-se um cão bebé que se viu numa loja ou numa feira de adopções, leva-se o cachorro para casa e, no dia seguinte, sai-se para ir trabalhar. Chega-se a casa ao fim do dia para se descobrir um cenário de pós guerra, destruição total, xixis e cocós por todo o lado, e o cachorro a dormir calmamente em cima do sofá. Decide-se que o cachorro passa a ficar na varanda onde os estragos são controláveis. Chega-se a casa ao fim do dia, abre-se a porta da varanda e sai de lá um cão histérico, extremamente carente de companhia e contacto humano. Não há tempo, nem pachorra, nem disponibilidade para aturar tanto histerismo. O cão continua na varanda. Ao princípio ladra e gane a pedir para entrar, eventualmente, acaba por desistir. Uma noite a campainha da porta toca. É uma senhora que vem perguntar se não estariam interessados em dar o cão para adopção, encontrar uma família com mais condições para o fazer feliz, porque vê o cão dia e noite, Inverno e Verão, sozinho na varanda, a ração misturada com as fezes, a tristeza estampada no olhar.
Ficção? Infelizmente, não! Esta situação e outras que tais são tão comuns que muitas pessoas nem reparam e, se não acreditam em mim, olhem à vossa volta com atenção.
Para tentar evitar estas situações, para ajudar as pessoas que pensam ter um cão mas não sabem muito bem o que implica ter um cão, estou a preparar uma pequena formação de algumas horas. Estou a pensar intitulá-la “Cãopanheirismo – Bases para uma Adopção Responsável” mas aceito sugestões. O programa está quase pronto e, em breve, o partilharei convosco.

Os maluquinhos dos animais

o saudoso Ugo


No âmbito da divulgação no Face Book de uma iniciativa que visa alertar o público para as más condições de alguns canis municipais, gerou-se uma troca de mensagens que me tem dado que pensar.
Foi assim, uma senhora escreveu que as pessoas não devem entregar os animais nos canis porque eles serão abatidos ao fim de algum tempo. Outra pessoa perguntou, então onde devem entregar os animais?
A resposta foi surpreendente: nas associações!
Nesta altura eu não me contive e intervim. Então não sabe que as associações estão sobrelotadas, que mal têm recursos para cuidar dos animais que recolheram, quanto mais cuidar de todos os animais cujos responsáveis não querem ou não podem encontrar soluções para quando vão de férias?
A resposta não se fez esperar, acompanhada por uma carga emocional fortíssima. Se considero injusto empurrar este problema para as sobrelotadas associações, então que sugestões ofereço? É que ficar de braços cruzados, sem dizer nem fazer nada é que não pode ser e, se não faço parte da solução, faço parte do problema.
Mais ainda, na opinião da dita senhora, os que abandonam os animais de companhia deviam ser tatuados na testa a informar que são maus adoptantes e ter as mãos cortadas!
Ao contrário desta senhora, eu faço parte da solução. Como tal, sei que este é um problema complexo e de enormes dimensões e que, como todos os problemas complexos e de enormes dimensões, não tem soluções simples nem imediatas.
Que é necessário tomar medidas, concordo absolutamente, mas é preciso ter cuidado ao decidir que medidas se tomam para não prejudicar em vez de ajudar.
Quando se decide encaminhar os abandonos para as associações estamos a prejudicar e explico porquê.
Se uma pessoa der ouvidos a esta senhora e, em vez de entregar o cão no canil, contactar uma associação para entregar o cão, vai receber uma resposta negativa, explicando que teriam muito gosto em ajudar mas estão sobrelotados. Se contactar outra associação, receberá a mesma resposta e, por muitas associações que contacte, a resposta será sempre a mesma.
Ao propor uma solução impraticável, esta senhora está a fazer com que os defensores do bem-estar animal percam credibilidade.
Ao sugerir que tatuem e cortem as mãos às pessoas que abandonam os animais, esta senhora está a dizer uma bacorada que ninguém está disposto a ouvir.
Consequentemente, os defensores do bem-estar animal serão mais uma vez apelidados de maluquinhos e perdem credibilidade. Ninguém nos leva a sério!
As minhas propostas: encarar os problemas com a seriedade que eles merecem, apresentar soluções exequíveis e ter uma postura calma e racional. De outra maneira, não chegamos a lado nenhum.
"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."