Com todo o respeito que me merece a religião católia, que na realidade não me merece respeito nenhum, mas isso não vem ao caso, é preciso admitir que essa ideia do “olho por olho, dente por dente” está mais que estafada e não funciona!
Há uns dias, ia eu de carro com uma das minhas irmãs, vimos um cão a caminhar ao longo da estrada a escorrer sangue de um olho e de outros sítios. Enquanto ela fazia inversão de marcha, aproximei-me do cão; estava num estado lastimoso e nem imagino as dores que devia ter. Enquanto fazíamos o cão entrar no carro, apareceu um casal jovem que vinha a seguir o rasto de sangue. Disseram-nos que tinham ouvido um tiro, que foram ver o que era e encontraram uma poça da sangue e um cartucho vazio (mostraram um objecto de plástico que seria o tal cartucho), seguiram o rasto de sangue e ali estavam.
A tentação de partilhar indignações, de rogar pragas à besta que disparou o tiro, desejar-lhe tanto ou pior sofrimento do que causou... era grande a tentação!
Mas o cão sofria e urgia levá-lo a um veterinário, trocámos contactos e combinámos que eles se encarregariam de participar à GNR.
Mais tarde, limpei do corpo as manchas de sangue mas não consegui limpá-las de mim. Mancham-me a alma para sempre! Quanto à criatura que disparou o tiro, não lhe desejo mal, nem sofrimento, nem que lhe façam o mesmo que ela fez ao cão. Gostaria, oh sim, como gostaria, que ela pudesse compreender nem que fosse uma fracção do sofrimento que causou.
A causa dos maus tratos, do abandono, da indiferença está na incompreensão profunda do ser animal e isso nem todos os tiros do mundo podem resolver. Lembro-me de uma frase que diz para sermos a diferença que queremos ver no mundo - isso é tudo o que podemos fazer.