Clara e a Leitura


A Clara é a minha princesa, de todas as crianças da família é a mais especial.
Por vezes, tenho a oportunidade de a ir deitar e de lhe ler uma das nossas histórias preferidas, “Rapunzel” ou “A Bruxa Mimi”.
A última vez que a fui deitar, a Clara anunciou-me orgulhosamente que seria ela a ler e pegou no seu livro de leitura para meninos que estão a aprender a ler. Abriu o livro na página da letra “M” e juntou as letras devagarinho, uma por uma, até formarem sílabas e, depois, formarem palavras; má, mala, miau…
Cada palavra reconhecida era uma alegria, uma vitória.
Recordei-me do primeiro livro que li, “Nody no País dos Brinquedos”, do esforço que foi juntar sílabas para formar palavras e palavras para formar frases.
Ainda o livro não ia a meio e já me custava muito menos, a leitura era mais fluente e podia avançar rapidamente para saber o que ia acontecer a seguir.
Foi uma boa recordação, vinda directamente da infância para a idade mais que adulta. A razão de a partilhar convosco é porque tem tudo a ver com treino de cães.
Ensinar um cão exige o mesmo nível de paciência e perseverança que aprender a ler, tanto para o “treinador” como para o cão. Imaginem dois seres que falam linguagens completamente diferentes e querem comunicar; entender o outro e fazer-se entender por ele.
Os primeiros passos são os mais difíceis. O cão não entende o que queremos dele e nós não temos maneira de o transmitir…
Lembro-me perfeitamente de ensinar o Manuel a sentar. Ele não se sentava por nada deste mundo! Usei todos os truques do manual; levantar o biscoito por cima da cabeça dele, ele recuava; fazê-lo encostar a uma parede, ele virava-se… Nada! Ficámos a olhar um para o outro e os olhos dele pareciam perguntar-me: - O que é que tenho de fazer para comer o biscoito?
Eu respondia: - Senta, Manuel, senta… Mas a única palavra que ele reconhecia era “Manuel” e continuava a olhar para mim a perguntar: - O que é que tu queres que eu faça?
Eventualmente sentou-se (provavelmente por cansaço).
- Toma, Manuel, come o teu biscoito, tu mereces. É exactamente isso que quero que faças!
Outro biscoito, outra troca de olhares… Desta vez demorou menos, ele é um cão muito esperto e estava muito motivado.
Depois aprendi que esta técnica de treino se chama capturar o comportamento, mas na altura não sabia. Só sabia que queria ensinar o Manuel a sentar e ele parecia que tinha molas nas patas, não parava quieto, não sentava nada!
Hoje senta-se mesmo sem eu pedir. É a maneira dele dizer:
- Olha para mim! Estou a portar-me tão bem! Acho que mereço um bocado dessa sandes que tu estás a comer, não achas?

Depois de o Manuel aprender a sentar, foi mais fácil ensinar-lhe outras coisas. Tínhamos construído uma plataforma de entendimento; um espaço em que há uma regra clara para ambos: eu peço-lhe para fazer algo (deitar, ir buscar a bola, largar), ele faz e recebe uma recompensa. Simples!
Fazendo o paralelo com a leitura, eu e o Manuel já conseguimos formar palavras. Agora estamos a tentar formar frases. Coisas simples; dá uma pata, depois a outra, outra vez a primeira…
Ensinar um cão é como aprender a ler. Ao princípio exige muito esforço, depois fica cada vez mais fácil e, uma vez aprendido, fica para sempre e facilita-nos muito a vida!

3 comentários:

Isabel A disse...

E que alegria k é! :)
Este é o 2º dia em k n tenho k andar com a esfregona atrás, o Rafa já percebeu o k a ida ao quintal significa :)

Bjos

Isabel - AAA Sintra

Claudia Estanislau disse...

andas inspirada, vou voltar a colocare este teu post no caosciência...beijos

Isabel Valadão disse...

Maria Inês, vi outro dia, num comentário que fez no FB que a Girassol tinha morrido... quando foi? Ela já tinha alguma idade, não era? Tenho tanta pena, Inês... um grande beijo para si e para o resto dos meninos!
Isabel Valadão

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."