A Herdade

foto antiga, o meu amado Google e o Manuel a farejar algo que lhes despertou o interesse

Quando a rua acaba começa um caminho de terra batida, rodeado de sebes de amoreiras, espinheiros, muros de pedra. À esquerda e à direita, há campos, vinhas, pinheiros, uma pereira, flores. A minha amiga Isabela chama-lhe a Herdade.
O nome pegou e, ao fim do dia, reúno os cães e digo-lhes, vamos à Herdade! Também podia dizer, vamos às carraças! Mas prefiro manter uma atitude positiva e gosto de imaginar-me latifundiária, como se todos os campos fossem meus, desde o fim da rua até ao mar lá ao fundo.
Na Herdade há pássaros, borboletas, coelhos, cobras e, de vez em quando, aparece um ou outro gato mais aventureiro.
De todos os cães, o Talibocas é o mais caçador. Desaparece entre os espinheiros onde me é impossível segui-lo, depois regressa feliz da vida, a abanar a cauda. Por vezes, traz manchas de sangue e arranhões no focinho, nem quero imaginar o que se passa, limpo-lhe o sangue, desinfecto os arranhões e peço aos deuses que sejam clementes. O que é que posso fazer?
Ontem, não tive como ignorar o que se passou. O Talibocas desapareceu entre os espinheiros, como habitualmente, mas alguma coisa me deixou apreensiva e decidi encurtar o passeio e voltei atrás, chamando por ele.
Apareceu com um coelho bebé na boca. O coelho estava morto, o Talibocas, feliz.
Deitou-se no meio de um tufo de ervas altas a comer o coelho. Eu fiquei afastada, gelada, ocupada em manter os outros cães perto de mim, sem saber que mais fazer.
Regressámos a casa, por fim; os cães felizes como sempre, eu preocupada. Que faço? Devo levar o Talibocas de trela?
Sei que aqui não há maldade, apenas instinto, mas não gosto! Não gosto mesmo!

Um comentário:

Maria Cristina Amorim disse...

Olá I.
Eu ficaria tão aflita e furiosa como tu.
O meu Mateus é um gato caçador em alta escala....mss de varanda. Os meus gatos nunca vão á rua(moro á beira de uma estrada nacional).
ele fica muito quieto e de vez em quando lá vem com um passarinho na boca ainda vivo. É terrivel, eu fico fula, tiro-lho da boca depois de lutarmos ambos pela presa e depois ...claro que o bichinho acaba por morrer na minha mão. não gosto! O primeiro que apanhou foi come-lo para cima da cama da minha filha..só encontrámos as penas da cauda e sangue ..Depois tenho-lhos tirado a todos e fica uns dias "de castigo" só indo á varanda connosco.O ultimo foi um melro que levou triunfante para o meu quarto...eu adoro melros!!

Eu sei que é o instinto, mas não posso deixar que ele o faça estando eu consciente.
Beijos

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."