Lady Quimera

Tenho saudades de acordar com uma ideia na cabeça e vir para o computador escrevê-la e postá-la no blogue. Não o tenho feito, não tanto por fala de ideias como por falta de tempo. As manhãs são passadas tratar dos cães, que têm sido muitos, felizmente.
Hoje o dia acordou mais calmo, basicamente só cá estão os cães da casa, e parece que também eles se sentem gratos pela tranquilidade depois de tantas festas, tanta gente, tantos cães…
Tenho vivido várias histórias que sinto vontade de partilhar convosco e espero que a acalmia de Janeiro me permita vir aqui contá-las.
Para hoje, escolhi uma história muito linda, a história da Quimera.
A Quimera é uma cadela feliz, igual a tantas, que foi adoptada de um canil ou de uma associação, não me lembro, e que tem sido amada, mimada e bem tratada ao longo da sua vida. Passou cá cerca de três semanas em Dezembro e correu tudo muito bem, ela é uma Lady, porta-se maravilhosamente e é uma comunicadora extraordinária. Foi um prazer recebê-la.
O que a história dela tem de especial é o cuidado que tiveram com a sua adaptação.
Ia contar como a dona da Quimera a trouxe cá várias vezes para ela se adaptar, mas antes tenho de abrir um parênteses para explicar que detesto a palavra dono(a) porque odeio o conceito de sermos donos dos cães. Nós não os possuímos, mesmo que os tenhamos comprado, apenas somos responsáveis por eles. Se tivermos a noção que os cães não são nossos, que apenas temos a responsabilidade pelo seu bem-estar, talvez a nossa compreensão se aproxime mais da realidade. Raramente digo “os meus cães”, refiro-me a eles como os cães que vivem comigo ou, melhor ainda, os cães com quem tenho o privilégio de partilhar a minha vida. Já reparei que algumas pessoas também evitam a expressão dono, uma pessoa que conheço diz que é a amiga do cão ou que é a menina dele. Eu andava a pensar substituir a palavra dono pela expressão “pessoa responsável” ou simplesmente PR, mas poderia confundir-se com Public Relations e achei que a moda não iria pegar. Depois, encontrei num site brasileiro, uma expressão que me agradou imenso: tutor. É uma palavra curta, simples, explícita. Adoptei-a. De agora em diante, vou usá-la sempre. Podemos ser donos de casas ou de carros, dos cães somos amigos ou tutores. Ponto. Fecha parêntesis.
Voltando à Quimera. A tutora veio cá uma primeira vez com ela para me conhecer e conhecer o espaço. Combinámos que viria cá uma outra vez para deixar a Quimera comigo durante umas horas. Trouxe-a de manhã e veio buscá-la à tarde. Veio uma terceira vez para passar a noite. Só depois de todas estas visitas de adaptação, a Quimera ficou uma temporada larga, cerca de três semanas, enquanto a tutora foi de férias.
Toda esta preparação era necessária? Não. Claro que não. Muito menos com a Quimera (adoro o nome) que é uma cadela sem traumas, confiante na vida e nas pessoas.
Apesar de não ser necessária, adorei que tivesse sido feita. Por duas razões, a primeira, porque o cuidado posto na adaptação do cão ajuda a que ele se sinta melhor; a segunda, e mais importante, porque demonstra um grande amor!
Uma das vertentes mais maravilhosas do meu trabalho é ver a relação dos cães com os seus tutores, ver como as pessoas os amam, como se preocupam com eles… Não há maior regalo que ver um cão amado!
Ainda noutro dia, uma senhora me explicava, os cães são como se fossem da minha família e eu não deixaria que tratassem mal nenhum membro da minha família! Claro que não. Eu também não deixaria!
Escolhi esta vida por paixão, paixão por cães, por todos os cães (não só pelos que vivem comigo). O meu objectivo e o meu desafio constante é tornar a estadia dos meus hóspedes o mais agradável possível. Quero que se sintam bem, que se divirtam, que não tenham vontade de se irem embora. Quero que voltem de cauda a abanar de contentamento. Tem sido o meu objectivo nos últimos anos e continuará a sê-lo neste novo ano de 2011!

Bom ano para todos!

Lady Quimera

2 comentários:

Claudia Estanislau disse...

amei e roubei uma das frases que escreveste relativamente aos "donos" com a qual concordo a 1000% .

Beijos muitos és linda

Ana Alvarenga disse...

Bem HAJAS, I.: também eu voltaria à tua casa de cauda a abanar! O nome Lady Quimera é sublime! Quanto às "designações"...desde que amemos as "crianças" acima de tudo, eu escolhi ser a mascote delas ;) Beijo imensoooooo

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."