Os Números (parte 1)


Sou membro de um grupo chamado Animais em Portugal que reúne pessoas interessadas em ajudar animais em risco. Escusado será dizer que os apelos são mais que muitos e vêem de norte a sul do país, incluindo as regiões autónomas dos Açores e Madeira.
A grande maioria dos membros são pessoas com elevados padrões de qualidade em relação ao modo como os animais devem ser tratados, mas, em centenas de pessoas, encontram-se sempre uns… como hei-de dizer?
Eu explico: há algum tempo surgiu uma discussão em que alguns “membros” se insurgiam contra a “mania” que nós (todos os outros membros) temos de aconselhar e praticar a esterilização/castração de cães e gatos.
Que as operações são contra natura, traumáticas para os animais e que se nós gostássemos realmente dos animais dávamo-nos ao trabalho de separar as fêmeas dos machos na altura do cio. No fundo, a ideia era que os chamados “amigos dos animais” praticavam a esterilização/castração para não terem a maçada de controlar os animais durante o cio e, também, outra ideia singular, enriquecer os veterinários!
Achei estes argumentos tão tolos, tão desfasados da realidade que nem me dei ao incómodo de participar na discussão. Nem teria voltado a pensar no assunto, não fora ter-me deparado com os mesmos argumentos nuns comentários que fizeram a um texto que uma associação de protecção de animais publicou no Facebook.
Que os cães e gatos nasceram para viver livre e inteiros, que a castração lhes retira vivacidade e dignidade, que provoca obesidade, que, se gostassem mesmo de animais, não os enclausurariam em apartamentos, e por aí fora.
Posso responder que aqui em casa vivem duas cadelas e três cães, todos castrados/esterilizados e felizes. Se acham que são obesos, que vivem uma vida indigna ou que não têm vivacidade e energia, venham cá conhecê-los! Eu mostro!
Posso responder que o Manuel, a Girassol, o Google e tantos outros, antes de viverem aqui, viviam num apartamento e que eram mais felizes a viver comigo num apartamento que nas ruas ou nas associações de onde vieram.
Mas não quero dar respostas pontuais. Acho que é necessário encarar o problema de frente, afinal de que é que estamos a falar? De cães e gatos, é claro. Mas quantos?
Li um artigo que estimava em cerca de 11000 os cães e gatos recolhidos em associações de protecção animal e centros de recolha oficiais, vulgo, canis municipais. A estes acrescem os cães e gatos errantes, cujo número não está contabilizado mas não será exagero considerar que são cerca de quatro vezes mais. Portanto, cerca de 44000 animais errantes.
Não estão incluídos os animais “com dono” que é uma expressão que detesto; não sou dona de nenhum animal, sou responsável que é uma coisa completamente diferente!
Esses são os que vivem em apartamentos, em quintas, em varandas, em marquises, acorrentados a casotas, acorrentados a qualquer lado sem sequer uma casota para abrigo… Enfim, uma infinidade de situações.
(continua…)

Um comentário:

Maria Cristina Amorim disse...

Vou ficar á espera do resto do texto, mas até agora concordo na integra com tudo.
Beijos

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."