Esse animal maravilhoso que se deita aos nossos pés e lambe as nossas mãos
Um cliente disse-me uma frase que nunca mais me esqueci: “cão é cão”! Impressionou-me como a noção dele do que é um cão, ou melhor, de como um cão deve ser tratado, diferia tanto da minha.
Entretanto, tenho usado o meu tempo para descobrir e aprender mais sobre os cães. Descobri que viver com cães, viver dedicada a eles não é suficiente. É preciso aprender mais, assistir a formações, ler livros, pesquisar na internet…
Tenho aprendido muito, o que me ajuda a perceber o quanto mais me falta saber. Já não vou em conversas de saberes feitos, daqueles que me dizem que é assim porque é, porque já o pai e o avô diziam que é assim. Peço explicações, provas, estudos científicos que o demonstrem. Abri a porta do conhecimento e a minha curiosidade é insaciável.
Todas estas novas informações fazem-me questionar as ideias comuns que as pessoas comuns têm sobre os cães. Vivemos com eles toda uma vida, somos companheiros há milénios e não sabemos quase nada sobre a essência dos cães. Aliás, temos todo um conjunto de ideias fabulosas baseadas em histórias de encantar e filmes e séries televisivas que não se prendem com a realidade dos cães, mas sim com um imaginário colectivo.
A senhora Jean Donaldson que escreveu um excelente livro sobre cães, chamado Choque de Culturas, diz, a páginas tantas, que considera perturbante que o valor dos cães seja baseado em mitos e exageros, como se eles não fossem suficientemente bons. Que o seu valor vem do que são realmente, da sua “dogginess” (não consigo traduzir esta expressão). Que os cães valem e são maravilhosos como são.
Pode parecer que estou a exagerar. Talvez esteja. Muitas pessoas vivem felizes com os seus cães e fazem os cães felizes. Podem não saber muito sobre cães, mas amam-nos e são sensíveis às suas necessidades.
Por outro lado, há muitas outras pessoas que decidem ter um cão sem saber nada sobre o que é um cão. Todos sabemos de demasiadas histórias em que esta situação tem um mau resultado. Não é que façam por mal, mas os resultados podem ser realmente catastróficos.
Um exemplo: adopta-se um cão bebé que se viu numa loja ou numa feira de adopções, leva-se o cachorro para casa e, no dia seguinte, sai-se para ir trabalhar. Chega-se a casa ao fim do dia para se descobrir um cenário de pós guerra, destruição total, xixis e cocós por todo o lado, e o cachorro a dormir calmamente em cima do sofá. Decide-se que o cachorro passa a ficar na varanda onde os estragos são controláveis. Chega-se a casa ao fim do dia, abre-se a porta da varanda e sai de lá um cão histérico, extremamente carente de companhia e contacto humano. Não há tempo, nem pachorra, nem disponibilidade para aturar tanto histerismo. O cão continua na varanda. Ao princípio ladra e gane a pedir para entrar, eventualmente, acaba por desistir. Uma noite a campainha da porta toca. É uma senhora que vem perguntar se não estariam interessados em dar o cão para adopção, encontrar uma família com mais condições para o fazer feliz, porque vê o cão dia e noite, Inverno e Verão, sozinho na varanda, a ração misturada com as fezes, a tristeza estampada no olhar.
Ficção? Infelizmente, não! Esta situação e outras que tais são tão comuns que muitas pessoas nem reparam e, se não acreditam em mim, olhem à vossa volta com atenção.
Para tentar evitar estas situações, para ajudar as pessoas que pensam ter um cão mas não sabem muito bem o que implica ter um cão, estou a preparar uma pequena formação de algumas horas. Estou a pensar intitulá-la “Cãopanheirismo – Bases para uma Adopção Responsável” mas aceito sugestões. O programa está quase pronto e, em breve, o partilharei convosco.
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