Os maluquinhos dos animais

o saudoso Ugo


No âmbito da divulgação no Face Book de uma iniciativa que visa alertar o público para as más condições de alguns canis municipais, gerou-se uma troca de mensagens que me tem dado que pensar.
Foi assim, uma senhora escreveu que as pessoas não devem entregar os animais nos canis porque eles serão abatidos ao fim de algum tempo. Outra pessoa perguntou, então onde devem entregar os animais?
A resposta foi surpreendente: nas associações!
Nesta altura eu não me contive e intervim. Então não sabe que as associações estão sobrelotadas, que mal têm recursos para cuidar dos animais que recolheram, quanto mais cuidar de todos os animais cujos responsáveis não querem ou não podem encontrar soluções para quando vão de férias?
A resposta não se fez esperar, acompanhada por uma carga emocional fortíssima. Se considero injusto empurrar este problema para as sobrelotadas associações, então que sugestões ofereço? É que ficar de braços cruzados, sem dizer nem fazer nada é que não pode ser e, se não faço parte da solução, faço parte do problema.
Mais ainda, na opinião da dita senhora, os que abandonam os animais de companhia deviam ser tatuados na testa a informar que são maus adoptantes e ter as mãos cortadas!
Ao contrário desta senhora, eu faço parte da solução. Como tal, sei que este é um problema complexo e de enormes dimensões e que, como todos os problemas complexos e de enormes dimensões, não tem soluções simples nem imediatas.
Que é necessário tomar medidas, concordo absolutamente, mas é preciso ter cuidado ao decidir que medidas se tomam para não prejudicar em vez de ajudar.
Quando se decide encaminhar os abandonos para as associações estamos a prejudicar e explico porquê.
Se uma pessoa der ouvidos a esta senhora e, em vez de entregar o cão no canil, contactar uma associação para entregar o cão, vai receber uma resposta negativa, explicando que teriam muito gosto em ajudar mas estão sobrelotados. Se contactar outra associação, receberá a mesma resposta e, por muitas associações que contacte, a resposta será sempre a mesma.
Ao propor uma solução impraticável, esta senhora está a fazer com que os defensores do bem-estar animal percam credibilidade.
Ao sugerir que tatuem e cortem as mãos às pessoas que abandonam os animais, esta senhora está a dizer uma bacorada que ninguém está disposto a ouvir.
Consequentemente, os defensores do bem-estar animal serão mais uma vez apelidados de maluquinhos e perdem credibilidade. Ninguém nos leva a sério!
As minhas propostas: encarar os problemas com a seriedade que eles merecem, apresentar soluções exequíveis e ter uma postura calma e racional. De outra maneira, não chegamos a lado nenhum.

2 comentários:

Daisy disse...

E que tal as pessoas fazerem algum sacrifício pelos animais, que não pediram para serem adoptados por elas e, como o foram, esperam alguma condescendência e um tratamento, no mínimo, digno? Ou abdicam das feriazitas, que custam dinheiro e em tempo de crise se dispensam, ou abdicam de alguns euros em jantaradas, almoçaradas e roupitas, para poderem colocar os seus animais em sítos condignos - pagos - em vez de estarem a "sacudir a água do capote" e a despejar a suas responsabilidades sobre os ombros de quem se esfalfa e sacrifica para recolher os animais que são por eles descartados... Enquanto as mentalidades não mudarem e as pessoas continuarem a ver os animais como COISAS e não como membros da família, será muito difícil inverter esta situação.

Claudia Estanislau disse...

pois é amiga, cortar as mãos aos que abandonam e tatuá-los, pois é assim que todos nos tornamos extremistas e maluquinhos, mas eu não me incluo no grupo dessa senhora que procura apenas protagonismo com afirmações dessas. Que ditem a sua justiça do alto do seu patamar, mas ajudar os animais é coisa que não fazem dessa forma.. infelizmente não veêm isso...

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."