A história da Girassol
O meu primeiro contacto com a Girassol foi indirecto. Li, num fórum sobre animais, a situação de um abrigo de cães em Vila Franca de Xira. Um daqueles abrigos que mais valia não existirem, onde os cães disputavam a comida com ratazanas, contagiavam-se mutuamente todo o tipo de doenças, nasciam e morriam ninhadas atrás de ninhadas… Um horror! Tanto que a Direcção Geral de Veterinária deu ordem de encerramento.
Entretanto, uma grande mulher de quem tenho a honra de considerar amiga, a Anabela, juntamente com um grupo de voluntários, esforçavam-se por melhorar as condições dos cães que lá estavam (quase 200) e encontrar casas, definitivas ou temporárias, para os realojar quando o abrigo encerrasse.
Nessa altura ofereci-me para ser família de acolhimento temporário de 2 cachorros, a Maria e o Chocolate, filhos da Girassol.
No Verão passado, depois da minha gata Lucy ter partido para o céu dos gatos, resolvi adoptar um cão ou uma cadela.
Lembrei-me dos cerca de 50 cães do ex abrigo de Vila Franca de Xira que ainda não foram adoptados. São cães cuja adopção é mais difícil devido à idade, ao tamanho, a critérios de beleza que me ultrapassam e não compreendo.
É difícil escolher um cão. Há tantos, tão lindos, tão maravilhosos, a precisar tanto…
Escolher um é rejeitar todos os outros.
Apaixonei-me pelo olhar da Girassol. Um olhar sereno e sábio.
Trouxe-a para casa. Tão tímida, tão assustada. Tive de a carregar ao colo para entrar em casa porque ela estava paralisada de medo.
Ficou a um canto sem se mexer. Esteve assim vários dias, Só saía quando lhe punha a trela para a levar à rua. Não que se sentisse mais confiante, mas a necessidade obrigava. Tinha de colocar-lhe água e comida ao lado porque, nem para comer, ela se mexia.
Uivava. Uivos lancinantes de medo por se encontrar num local desconhecido.
Não sei a idade da Girassol. Nem os veterinários sabem dizer. Tem os dentes muito estragados da má vida que teve, dá a sensação que comeu pedras. Nota-se, pelas maminhas, que já teve várias ninhadas e tem uma artrose numa das patas traseiras pelo que já não é jovem.
Passou quase toda a vida em abrigos, primeiramente no “campo de concentração” de Vila Franca de Xira, posteriormente noutro com melhores condições mas sem muito contacto humano.
Era uma cadela extremamente fechada. Não reagia a estímulos, desviava o olhar, não interagia.
Lentamente, muito lentamente, foi ganhando confiança no mundo e em mim. Hoje acho que é feliz! Eu sou feliz por partilhar a minha vida com ela, sou feliz por a fazer feliz!
Quando olho para ela e ela olha para mim, só posso dizer que é amor!