Perdido

o novo hóspede que ainda não tem nome
O meu novo hóspede chega hoje. A Susana encontrou-o em Carcavelos e levou-o ao veterinário. Tem chip pelo que se supõe que esteja perdido. Infelizmente, por vezes, o chip não é suficiente para descobrir os donos dos cães. Neste caso, foi contactado o SIRA que indicou um nome e morada. A Susana falou com senhor em questão que é dono de vários cães, mas não deste. Supomos que tenha havido um engano no registo do chip. A Susana vai verificar todos os registos com os números anteriores e seguintes na tentativa de descobrir o dono deste cão. Até lá, o cão vai ficando aqui pela Casa do Pinhal.
É um jovem com cerca de 8 meses. Ainda não lhe demos um nome pelo que aceito sugestões.

O Mundo Perfeito

O "Mundo Perfeito" acabou. Tenho muita pena!

Rádio


Hoje a Casa do Pinhal foi à rádio.
O Senhor Helder Franco da Rádio Mafra teve a gentileza de me convidar para uma entrevista que vai passar no programa Arte a partir de dia 6 de Maio às 11:20h e às 19:20h, em 105.6 FM.
Não percam. Eu não vou perder!

Nikita Feliz

Nikita feliz
A Nikita foi adoptada no dia 25 de Abril.
O casal que a veio cá entregar, veio buscá-la e foi levá-la à nova casa, pelo que não conheci a nova família da Nikita. Já combinei que irei visitá-la quando forem fazer a visita de acompanhamento da adopção. Entretanto, vou tendo notícias através de mails.
Confesso que sou muito protectora em relação aos cães que passam pela minha vida. Os que têm dono, nem tanto, porque são felizes nas suas vidas e a minha única missão é mantê-los felizes durante a estadia na Casa do Pinhal. Mas os outros, os abandonados que passam por cá enquanto não encontram novos lares, esses são quase como filhos, ou sobrinhos, ou afilhados. Fico sempre apreensiva em relação à felicidade deles e nenhuma família me parece suficientemente boa para os receber.
Felizmente, não sou eu a responsável pelas adopções porque, se fosse, poucas seriam as famílias que eu consideraria à altura de os receber.
Sei que sou exagerada. No fundo, o que gostaria é que todos fossem como eu, o que é uma atitude irrealista e muito prepotente – logo eu que odeio a prepotência nos outros!
Mas a verdade é que sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família eu desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na vida deles para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão.
Pode parecer desadequado, mas é exactamente assim que sinto em relação aos cães, aos meus e àqueles que passam pela minha vida de forma mais temporária. Sem dúvida que eles me fazem feliz, mas é porque a minha felicidade consiste em sabê-los felizes.
Quanto à Nikita, o que mais desejo é que os novos donos a queiram fazer feliz, que compreendam o que ela já sofreu e lhe dêem todo o tempo do mundo para ela se habituar a eles.
Desejo que a Nikita recupere das infelicidades que sofreu e se transforme numa flor como aconteceu com a Girassol!

Amor


A história da Girassol
O meu primeiro contacto com a Girassol foi indirecto. Li, num fórum sobre animais, a situação de um abrigo de cães em Vila Franca de Xira. Um daqueles abrigos que mais valia não existirem, onde os cães disputavam a comida com ratazanas, contagiavam-se mutuamente todo o tipo de doenças, nasciam e morriam ninhadas atrás de ninhadas… Um horror! Tanto que a Direcção Geral de Veterinária deu ordem de encerramento.
Entretanto, uma grande mulher de quem tenho a honra de considerar amiga, a Anabela, juntamente com um grupo de voluntários, esforçavam-se por melhorar as condições dos cães que lá estavam (quase 200) e encontrar casas, definitivas ou temporárias, para os realojar quando o abrigo encerrasse.
Nessa altura ofereci-me para ser família de acolhimento temporário de 2 cachorros, a Maria e o Chocolate, filhos da Girassol.



No Verão passado, depois da minha gata Lucy ter partido para o céu dos gatos, resolvi adoptar um cão ou uma cadela.
Lembrei-me dos cerca de 50 cães do ex abrigo de Vila Franca de Xira que ainda não foram adoptados. São cães cuja adopção é mais difícil devido à idade, ao tamanho, a critérios de beleza que me ultrapassam e não compreendo.
É difícil escolher um cão. Há tantos, tão lindos, tão maravilhosos, a precisar tanto…
Escolher um é rejeitar todos os outros.
Apaixonei-me pelo olhar da Girassol. Um olhar sereno e sábio.
Trouxe-a para casa. Tão tímida, tão assustada. Tive de a carregar ao colo para entrar em casa porque ela estava paralisada de medo.
Ficou a um canto sem se mexer. Esteve assim vários dias, Só saía quando lhe punha a trela para a levar à rua. Não que se sentisse mais confiante, mas a necessidade obrigava. Tinha de colocar-lhe água e comida ao lado porque, nem para comer, ela se mexia.
Uivava. Uivos lancinantes de medo por se encontrar num local desconhecido.
Não sei a idade da Girassol. Nem os veterinários sabem dizer. Tem os dentes muito estragados da má vida que teve, dá a sensação que comeu pedras. Nota-se, pelas maminhas, que já teve várias ninhadas e tem uma artrose numa das patas traseiras pelo que já não é jovem.
Passou quase toda a vida em abrigos, primeiramente no “campo de concentração” de Vila Franca de Xira, posteriormente noutro com melhores condições mas sem muito contacto humano.
Era uma cadela extremamente fechada. Não reagia a estímulos, desviava o olhar, não interagia.

Lentamente, muito lentamente, foi ganhando confiança no mundo e em mim. Hoje acho que é feliz! Eu sou feliz por partilhar a minha vida com ela, sou feliz por a fazer feliz!
Quando olho para ela e ela olha para mim, só posso dizer que é amor!

Um pequeno milagre

Nikita no campo

A história da Nikita.
Não sei como a Nikita foi parar ao canil municipal de uma cidade perto de Lisboa. Sei que nesse canil trabalha um grupo de voluntários com o objectivo de promover as adopções dos animais que lá estão.
Foi com a ajuda desse grupo de voluntários que a Nikita foi adoptada por uma família. Ao fim de três meses foi devolvida.
Não interessam os motivos que pretendem justificar uma devolução. Já ouvi de tudo. Até já ouvi alguém dizer que devolvia o cão porque “tinha de o levar à rua”! Depois disto, deixei de ouvir as justificações. Que me interessa se o cão é devolvido por fazer as necessidades na rua ou por fazê-las em casa? Que significado tem a família ir mudar-se para uma casa onde não pode ter o cão? Significa só que a família em questão não teve o cuidado de procurar uma casa onde o cão fosse aceite, ou onde houvesse espaço para ele. Significa que não houve um verdadeiro compromisso e que, à menor dificuldade, o cão é descartado como se fosse uma pastilha elástica já mastigada.
Quando olhamos para a Nikita, vemos o resultado de se descartar um ser não descartável! Está triste, desconfiada, amedrontada. Olha para mim sem saber se a mão que lhe estendo vai bater ou acariciar, e nesse olhar há uma tristeza tão profunda…
Hoje, eu e a Nikita fomos passear para o campo. Levei-a sem trela, com toda a confiança. Os cães que sofrem o trauma do abandono não correm o risco de perder de vista o dono, mesmo quando é um dono temporário como eu, mesmo quando é um dono que só conheceram ontem.
Nos primeiros metros a Nikita avançou timidamente. A cheirar tudo. Receosa.
Podem argumentar que todos os cães cheiram tudo. Podem perguntar como é que sei que ela estava receosa. Sei. Os cães são seres extremamente expressivos e, quando estamos habituados a lidar com eles todo o dia como eu estou, quase lhes podemos “ler” os pensamentos.
Não sei exactamente quando nem porquê a Nikita percebeu que estávamos só a passear, que eu não a ia levar para longe para a abandonar, que podia correr e saltar por onde lhe apetecesse.
A verdade é que percebeu e a postura da cabeça mudou, o ritmo do andar mudou: às vezes corria, outras parava, outras saltitava contente.
Correu pela vinha, saltou pela vegetação do pinhal, cheirou as tocas dos coelhos, farejou o vento.
Quando chegámos a casa, a Nikita era outra. Bebeu e comeu como se fosse a água dela e a comida dela e tivesse todo o direito a fazê-lo. Deitou-se em cima do sofá com a confiança de quem sabe que se pode deitar em cima do sofá.
A Nikita que chegou a casa era uma cadela muito mais confiante que quando saiu. Foi um pequeno milagre.

Nikita

Nikita


A Nikita chegou hoje à Casa do Pinhal. É um sossego de cadela! Não ladra, não chora. Deita-se aos meus pés e fica! É a cadela ideal para fazer companhia a uma pessoa calma.
Tem uns olhos lindos, inteligentes e tristes. Acho que ela está a precisar de muito carinho.

15 de Abril, quarta feira à noite

Google e Manuel

Está frio.
Choveu quase todo o dia. Foi uma sorte não ter chovido enquanto demos o passeio pelo campo. Nessa altura, o sol apareceu e o campo ficou muito agradável com o cheiro a pinhal e a terra molhada.
Os cães já estão a dormir. Eu só estou a fazer tempo para dar a medicação ao Talibocas…
Está frio e tenho sono!

Por um mundo onde o bem estar animal importe e os maus tratos contra animais tenham fim

Manuel e Lucy ao sol
Este vídeo aborda o tema do bem estar animal de uma forma clara, directa, e não violenta. Tem a duração de quase uma hora. Os primeiros vinte minutos são dedicados aos animais de companhia, os restantes, aos animais de consumo, trabalho, entretenimento, silvestres... Considero que ver este vídeo é de extrema importancia, pois não só nos ensina a ter em conta as necessidades básicas nos nossos companheiros de quatro patas, como nos conduz a uma reflexão profunda sobre o nosso relacionamento com todos os animais não humanos.
Vale a pena ver!

11 de Abril, sábado de manhã

Quem os conhece percebe a piada da situação. Para quem não conhece, vou tentar descrevê-los. O Maio é um cão grande, mesmo grande, jovem, cheio de energia. O Taliban, ou Talibocas como eu lhe chamo, é um cão pequeno, rodas baixas, 9 kg de cão compactados em tamanho de colo, velhote, calmíssimo.
Ora, hoje de manhã, estava eu sentada a tomar o pequeno-almoço, quando o Maio vem desafiar-me para brincar. O Maio não sabe pedir; salta para cima de mim, patas no peito, patas na cara, lá vão os óculos para o chão… Dei-lhe um grande “não”! Estou a tentar ensinar-lhe que só obtém o que pretende se pedir com maneiras.
A piada é que o Talibocas vem ao meu auxílio: coloca-se debaixo dos meus pés, a rosnar ao Maio, como quem está a proteger-me! Sabendo o tamanho de um e de outro, a situação é caricata!
Mas fiquei sensibilizada com a atitude do Talibocas. Ele está a afeiçoar--se muito a mim, e, como todos os cães que vieram da rua, tem uma lealdade imensa!
Sei que quando chegar o dia de nos separarmos, vai ser muito difícil para nós os dois!

Hotel para Cães

Maio

- Um amigo falou-me no seu hotel para cães, gostaria de saber quais são as condições e se pode receber a minha cadelinha…
Tentei explicar que a Casa do Pinhal não é exactamente um hotel canino. Dei o exemplo do Maio, um belo e grande cão cuja dona aproveitou as férias da Páscoa para viajar. Na primeira noite que cá ficou dormiu na marquise com os outros. Na segunda noite decidiu que ficava melhor se dormisse comigo, aos meus pés. Não, em cima dos meus pés. E das minhas pernas.
Eu domi encolhida, sem espaço para me esticar. Ele, acho que domiu bem!

Tédio


Um dia, a Cláudia disse-me: se eu estivesse no teu lugar, fazia os cães trabalharem por comida. Foi uma das melhores sugestões que me deram em toda a vida!
Nada de trabalhos forçados, nem passar fome. Tarefas simples como “senta” ou “dá a pata” em troca de pedaços de ração. Os cães adoram! Tanto que, se me ouvem dizer “senta!, vêm logo todos a correr à espera do seu pedaço de ração. Mentira, o que eles querem não é o pedaço de ração. Se fosse isso, bastava irem até à malga mais próxima. É que eu tenho sempre uma malga com ração e outra com àgua à disposição. O que eles querem é a diversão e o jogo.
Os cães adoram jogos. Adoram esforçar-se para perceber o que eu quero que eles façam quando digo “deita” ou “busca” e adoram receber a recompensa quando, finalmente, percebem e executam a tarefa.
Todos sabemos que os cães adoram correr atrás da bola que lhes atiramos, e que o fazem alegremente vezes sem conta até darmos por terminada a brincadeira.
Os cães não perguntam porquê, nem qual é o objectivo de ir buscar a bola, ou, se nós queremos a bola porque é que a atiramos para longe outra vez. Para eles ,estes exercícios significam apenas brincadeira, e eles adoram brincar.
Além de brincar, os cães gostam de correr (faz parte da brincadeira), passear, comer e dormir.
Mas o dia é demasiado longo. Depois de os cães terem comido, e dormido e brincado connosco, ainda sobra muito tempo. Os cães entediam-se!
Se estamos presentes (no computador, a lavar a loiça, a pintar as unhas) vêm ter connosco e desafiam-nos para mais brincadeira. Encostam-se a nós, chamam-nos com a pata, olham-nos com olhos que dizem: - Dá-me atenção, por favor, dá-me atenção!
Se estamos ausentes (no emprego, nas compras, a dormir) procuram – e encontram – actividades para se entreterem: roer o sofá, esvaziar o caixote do lixo, esgravatar a terra dos vasos…
É que os cães não lêem livros nem gostam de ver televisão!
O tempo é muito e o tédio é imenso!
Claro que os velhotes só querem dormir. Mas os outros?
Tento ensinar os meus cães a entreterem-se sozinhos. Dou-lhes brinquedos como o kong e uma bola dispensadora de comida,ossos de roer, escondo pedaços de ração ou biscoitos nas mantas das camas deles. São boas maneiras de os manter entretidos, mas continua a não ser suficiente.
Para mim, a melhor maneira, é cansá-los! Com os meus cães, é o que resulta mais. Claro que não posso fazê-los correr quilómetros todos os dias, mas descobri que o cansaço “intelectual” tem o mesmo efeito. Uma sessão de “senta”, “dá a pata”, “deita”, “junto” não os cansa fisicamente, mas deixa-os prontinhos para se deitarem a descansar o resto da tarde.
Não sei se é do esforço que fazem a perceber o que espero deles, se é da excitação da brincadeira, se é por sentirem que lhes dou atenção. A verdade é que resulta! Depois posso sair de casa ou ficar tranquilamente a ler no sofá. Eles ficam a descansar, tranquilos.

9 de Abril, quinta feira à tarde


Hoje o Hugo veio visitar-me! Aproveitei a ajuda dele para irmos dar um grande passeio com os cães. Todos à solta, excepto o Maio, que se o solto acho que nunca mais o vejo!
Correram, saltaram, cheiraram e voltaram a correr… Quando chegámos, estavam cheios de sede. Agora estão a descansar, deitados cada um para o seu lado.

6 de Abril, segunda feira à noite


Tempo de paz e sossego! Só oiço a respiração dos cães enquanto dormem. Estou no escritório, tenho ao meu lado o Google a dormir no sofá vermelho, o Maio deitou-se aos meus pés, a Girassol ocupou a cama do Taliban que está a dormir no colchão da Girassol e o Manuel está na cama dele muito enroladinho. A única que não está aqui é a Tatonka que, por ser cachorra e ter o potencial de destruição próprio dos cachorros, está na marquise a dormir, enrolada em cima do sofá amarelo.Acho engraçado como todos se dão tão bem! É claro que, às vezes, há umas rosnadelas; o Taliban tem o seu feitiozinho e o Maio ainda não percebeu bem quem manda nele e em quem é que ele pode mandar... Eu bem explico que quem manda sou eu mas insistem em encontrar uma espécie de hierarquia interna.

Carta de um amigo


Um amigo escreveu o seguinte comentário e autorizou-me a partilhá-lo convosco:

A I. diz que mora numa rua sem saída, mas não é bem assim. A rua dela tem várias saídas para lugares diferentes: prados, pinhais, vinhas, encostas íngremes, caminhos que vão dar a outros caminhos, carreiros, um pomar de macieiras (eternas sobreviventes) e outros que ainda não vi.
Os pinheiros do pinhal da rua da I. estão carregados de pinhas e são altos, pinheiros bravos a sério e com muitos anos, uma ilha de pinheiros que cria sombra sem tapar o sol.
Na rua do Pinhal cheira a mar quase sempre. E quando não é a mar, o vento traz-nos ar puro e sabe bem respirar fundo; sabe bem caminhar e os cães vão connosco contentes da vida. Quando regressamos a casa os rituais repetem-se: água e descanso. Repouso, sossego. É bom estar na Casa do Pinhal.

A Casa do Pinhal

Girassol na Costa da Caparica



Moro na Casa do Pinhal, numa aldeia a cerca de 7 km da Ericeira, numa rua sem saída, que se prolonga por um caminho de terra batida até aos campos cultivados, às vinhas e aos pinhais.
Vivo com 2 cães, uma cadela e uma gata: o Google e o Manuel, a Girassol e a Cosca.
Além dos habitantes permanentes, acolho alguns “hóspedes” cujos donos vão de férias ou têm de se ausentar por alguma razão.
Cada vez mais pessoas preferem deixar os seus companheiros em famílias de acolhimento em vez de hotéis. Acho que o fazem por duas razões. A primeira é que uma família de acolhimento proporciona um ambiente familiar ao qual os cães estão habituados, companhia humana e canina, passeios, enquanto nos hotéis os cães permanecem fechados nas boxes a maior parte do tempo. A segunda razão é o preço: as famílias de acolhimento são geralmente mais baratas que os hotéis.


Resolvi criar este blogue para ir dando notícias dos meus hóspedes aos seus donos que, mesmo quando viajam para o outro lado do mundo, têm acesso à internet. Eu sei as saudades que sentimos dos nossos companheiros caninos quando nos separamos deles!

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."