Cães Instantâneos

Nos livros que leio sobre treino e comportamento canino, é comum referirem que os filmes e as séries transmitem uma imagem errada dos cães. Animais humanizados, bem comportados que compreendem tudo o que dizemos, só mesmo na ficção!
Um dos livros referia que o famoso cão da série “Frasier” fora abandonado num abrigo por duas vezes devido ao seu mau comportamento, tendo sido adoptado depois por um treinador que o ensinara a ser um cão actor.
Compreendo que é uma situação comum: alguém vê um cão na televisão a fazer coisas extraordinárias (lembram-se da Lassie?) ou repara no cão do vizinho que se comporta tão bem em todas as ocasiões. É fácil desejar um cão igual. Corre-se para a primeira loja de animais e… traz-se para casa um cachorrinho que rói os sapatos e faz xixi no sofá!
É nessa altura que os donos têm de tomar uma decisão importante sobre o treino dos cachorros e sobre o comportamento que desejam que o cão tenha. Têm de começar a ensinar os cães a portarem-se bem, o que é um processo demorado que exige empenho e consistência da parte dos donos.
Eu tive muita sorte: o primeiro cão da minha vida, o Cosmos, era um cão instantâneo, ou seja, já sabia tudo. Sabia esperar para fazer as necessidades na rua, andar à trela, andar sem trela… Também a Girassol, depois de ultrapassar os traumas que a faziam desconfiar de todas as novas situações, se revelou uma cadela instantaneamente bem comportada. Nunca lhe ensinei nada, no entanto, ela parece saber exactamente como deve comportar-se em todas as ocasiões. Com excepção de uma vontade incontrolável de comer lixo que apanha na rua, ela é a perfeição canina.
Tanto o Cosmos como a Girassol chegaram à minha vida, numa fase já avançada da vida deles. O Cosmos teria mais de 10 anos, a Girassol não se sabe, mas terá, pelo menos, sete.
Os cães seniores são cães instantâneos porque se adaptam facilmente às regras da nova casa, porque conseguem controlar-se para esperar para irem à rua para fazerem as necessidades, porque o impulso de roerem tudo e mais alguma coisa já acalmou…

Muitas vezes, ajudo como voluntária em campanhas de adopção. Os cachorrinhos são os mais desejados. Todas as pessoas se sentem tentadas a levar para casa uma daquelas bolinhas de pelo, fofinhas e doces. Converso sempre com os possíveis adoptantes e, além de inquirir sobre as condições de vida que podem proporcionar aos cães, aviso que os cachorros dão muito trabalho porque fazem as necessidades em todo o lado e roem tudo a que possam deitar os dentes. Todos me dizem que estão preparados para o trabalho extra, mas nem todos me convencem que isso é verdade.
Gostaria que mais pessoas considerassem a hipótese de adoptar um cão adulto. São cães que não trazem surpresas em relação ao tamanho (muitos abandonos acontecem porque os cães crescem mais do que o previsto), nem à sua personalidade. Já sabem controlar-se para fazer as necessidades na rua, e são geralmente mais calmos e dedicados aos donos. São cães instantâneos!

4 comentários:

Claudia Estanislau disse...

excelente perspectiva. Eu também já adoptei alguns cães instantâneos, e são magníficos. O que é importante perceber é que nem todos são assim e os que não são, não valem menos por isso. Há que trabalhar para que eles se tornem a nossa visão do cão perfeito.

Cpts

Isabela Figueiredo disse...

Excelente texto.
Os cães têm as suas personalidades, como as pessoas. Há pequenas coisas na Morena que eu nunca consegui corrigir. Mas penso que às vezes também temos de nos habituar à personalidade dos nossos cães, embora considere como tu que a rotina e a disciplina devem existir. Bem, eu sou um bocado permissiva, para dizer a verdade. A minha prima afastada está-me sempre a dizer que se eu educar o meu futuro filho tal como educo as minhas cadelas, será só beijinhos e liberdade. :)

Doggy Palooza disse...

A Cláudia tem razão; nem todos os cães adultos são "instantâneos", mas há grandes probabilidades de serem bem comportados. Mesmo muitos cães que toda a vida viveram em abrigos "sabem" instintivamente que não devem fazer as necessidades em casa.

Ana Alvarenga disse...

Tenho uma amiga que sempre preferiu animais adultos (e sempre em mau estado, como ela diz, o que tivesse bom aspecto não podia ser: só com patas partidas, pele em estado lastimável...Hoje é vê-los perfeitos de saúde, "estragados" pela pequena Jackie, a única que foi adoptada com menos de 1 ano). Não havia xixis pela casa nem tapetes roídos, defende a minha amiga.

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."