31 de Maio, domingo à noite

É noite. A lua apresenta-se num quarto crescente perfeito. Os pavões pupilam e ouve-se a rega numa casa vizinha.
Os cães vão ficando pelo pátio da frente, sem vontade de se recolherem. Acendo um cigarro. Também não me apetece recolher.
Um candeeiro de rua ilumina o pátio com uma luz amarela, confortável. O fresco da noite sabe bem depois de um dia de tanto calor.
Está-se tão bem aqui.

Mobiliário de Jardim

A Casa do Pinhal tem um pátio grande que está dividido em três zonas. A frente está virada a sul e as traseiras a norte.
Na zona sul plantei flores nos canteiros, coloquei uma mesa de ferro com três cadeiras e espreguiçadeiras. As flores estão a nascer e o espaço ficaria muito agradável, não fora o calor insuportável que se faz sentir.
Agora os cães preferem a zona norte, mais fresca e sombreada. Eu também. Mas faz-me falta mobiliário de jardim. Preciso de umas cadeiras de verga, velhas e confortáveis; velhas para que os cães as possam roer sem que daí venha mal ao mundo, confortáveis para me sentar com um livro e ficar.
Tenho de fazer uma busca pelos sótãos e arrecadações da família e dos amigos, ou então, encontrar uma loja onde se vendam baratinhas.

Tomé

Os meus apelos foram atendidos e já recebi notícias do Tomé. Está bem e é muito amado pelos donos. Ele merece.

Cosmos

Uma das minhas sobrinhas telefonou-me:
- Ó tia, está aqui um cãozinho abandonado, ia a passar na estrada e quase que o atropelava. Estão aqui uns senhores que vieram trazer água e comida, dizem que ele já está aqui há mais de uma semana…
Fui lá ter. Era um cão pequenino, tipo caniche mas mais bonito, com um pelo mais liso e comprido, preto, cinzento, manchas brancas no peito e nas patas.
Quando me viu, veio ter comigo e abraçou-se à minha perna.
Trouxe-o para casa. Tinha medo da reacção dele com a gata, mas nem lhe ligou. Sentei-me no sofá e ele encostou a cabeça nos meus joelhos. Depois as patas da frente. Foi trepando, aninhando-se, até que saltou e ficou todo no meu colo. Olhou para mim com uns olhos que pediam “deixa-me ficar aqui”. Eu deixei.
Foi a minha primeira vez, o primeiro cão da minha vida.
Chamei-lhe Cosmos apropriadamente; ele era o meu mundo e eu o mundo dele.
Era um cão perfeito, portava-se sempre bem, ia à rua sem trela, recebia-me todos os dias com uma efusão de alegria e lambidelas.
Estraguei-o com mimos. A minha irmã Zé ria-se e dizia:
– Quem o viu e quem o vê! Um cão tão bem comportado. Agora fica a ganir se não lhe fazemos todas as vontades.
Era verdade. Gania baixinho quando queria alguma coisa que não podia ter. Eu ficava feliz por o saber mimado, adorado, amado…
O cão mais doce do mundo.
Só se portava mal no veterinário e na tosquia. Aprendi a cortar-lhe o pelo com uma tesoura. Dividia a tosquia em quatro ou cinco sessões para não o stressar muito. Tinha medo. Não sei o que terá passado para ter ficado tão traumatizado. No veterinário, ficava uma fera, tentava morder todos e tremia de medo.
O veterinário disse que ele teria mais de dez anos. Tinha os dentes num estado lastimável. Foi anestesiado e arrancou os dentes que não se podiam salvar, entre eles um canino. A língua caía da boca pelo buraco que o canino deixou. Tinha um ar muito patusco, sempre de língua de fora.
O veterinário diagnosticou-lhe um pequeno sopro no coração. Nada de grave.
Era um cão feliz, corria e saltava como um cachorrinho. Costumavam dizer-me que parecia um cão de circo, tão alto ele saltava e tão inteligente era.
Com o tempo, o problema cardíaco agravou-se. Fez medicação, aumentou a medicação… Às vezes tinha crises. Ia ao veterinário receber oxigénio e imensas injecções. Melhorava. Trazia-o ao colo para casa e deitava-o na minha cama. Fazia xixi na minha cama e eu dizia-lhe que não fazia mal, que o que eu queria era que ele ficasse bom, que sobrevivesse, que continuasse na minha vida.
Um dia não sobreviveu. Quando cheguei a casa, só encontrei o corpo dele, rígido e frio, deitado na cama, com a língua de fora. Não posso falar da dor, não consigo. Ficou a memória da felicidade, a satisfação de o ter mimado tanto… Ficou o amor que é eterno.

24 de Maio

Vim à cidade. Ando pelas ruas sem companhia canina. Sinto-me nua. Sem cão, sinto-me nua.

Nikita

Sinto saudades...
Gostava de ter notícias tuas. Tuas e do Tomé e do Maio...

Os Deuses




"Parece-me evidente que quando nos propomos castrar ou esterilizar qualquer animal já estamos armados em deuses e que por isso iremos ser castigados a qualquer altura. Por outro lado, a situação dos animais já é um problema que tem de ser resolvido e os deuses que sejam complacentes, se fazem favor."


O comentário que Contas de Vidro escreveu a propósito da esterilização obrigatória espelha um sentimento partilhado por muitas pessoas. Algumas destas pessoas são excelentes donos que amam os seus animais, mas sentem que a esterilização é algo “não natural” se impõe aos animais ou sentem que submeter os animais a uma operação é um sofrimento desnecessário.
Quanto aos deuses, já andamos armados em desuses há imenso tempo. Armámo-nos em deuses quando fizemos do cão o que o cão é hoje, um animal doméstico cujas raças foram apuradas consoante os interesses dos homens, cães pastores, cães caçadores, cães de guarda, cães de colo…
É demasiado tarde para dizer que não queremos ser deuses, andamos a fazer o papel de deuses há muito tempo, agora é altura de sermos deuses responsáveis.
Às pessoas que pensam que esterilizar é contra-natura, gostaria de dizer que deixar os animais procriarem naturalmente é, na minha opinião, criminoso. Sei que a legislação vigente não concorda comigo, mas escolhi bem a palavra: criminoso! As pessoas que deixam os animais procriar estão a condenar as gerações vindouras a maus tratos e abandonos. Mesmo quando encontram bons donos para todas as crias. Se não for nessa geração, será na seguinte, ou na seguinte, que crias serão abandonadas, maltratadas, mortas à nascença…
Quanto aos que pensam que a operação é um sofrimento desnecessário, contraponho que o stress provocado por ter cios sem copular é um sofrimento maior e mais desnecessário. Maior porque dura mais tempo e mais desnecessário porque basta uma operação para resolver esse problema para toda a vida da cadela ou da gata, além dos enormes benefícios que a esterilização proporciona a nível de saúde.

Esterilização Obrigatória

Se sou a favor da esterilização? Absolutamente. É imprescindível no caso das fêmeas e imensamente desejável no caso os machos.
A esterilização não é só a maneira mais eficaz de combater a superpopulação de cães e gatos, como traz imensos benefícios para a saúde dos animais. Um desses benefícios é a eliminação do stress que os animais sofrem com o cio. Muitas pessoas julgam que basta evitar que as fêmeas tenham contactos com machos durante o cio, mas esquecem-se que essa é uma situação pouco natural e causadora de stress tanto para as fêmeas que são impedidas de estar com os machos, como para os machos que sentem o cheiro das fêmeas e não as conseguem alcançar. Não é por acaso que a maior parte dos animais que fogem de casa, o fazem durante a época do cio.
Ao proporem-me que defenda a obrigatoriedade da castração para todos os animais de companhia, surgem-me sérias dúvidas: seria eficaz?, como seria implementada esta obrigatoriedade?, não estaríamos a promover o abandono por falta de meios financeiros para a esterilização?, não estaríamos a deixar nas mãos dos criadores autorizados demasiado poder?...
Não sei. Fico à espera de respostas. Para já, posso dizer o que acho que deveria ser implementado imediatamente: castração/esterilização de todos os animais que são dados para adopção tanto em canis municipais como por associações. No caso de serem adoptados bebés, os adoptantes deveriam deixar uma caução em dinheiro (no valor da operação) que lhes seria devolvida quando provassem que tinham esterilizado os animais ou serviria para pagar directamente a esterilização.
Provavelmente não acabaria com o problema da superpopulação de cães e gatos, mas ajudaria muito.

“Mostra-me o teu cão, dir-te-ei quem és”


A primeira vez que li esta frase, interroguei-me: se a Cláudia Estanislau (autora da frase, tanto quanto sei) olhasse para os meus cães, como é que eu ficaria na fotografia? Tive a sensação que não faria boa figura!
Pensei no assunto a sério, pedi conselhos e segui-os.
Percebi que as técnicas de treino que a Cláudia Estanislau e a Alexandra Santos me ensinaram tinham resultados diferentes em cada cão. É que os meus cães são todos diferentes. Todos passaram experiências más, traumáticas, e reagiram de maneiras diferentes.
A primeira coisa que os ensinei a fazer foi sentar. Foi fácil com o Google e com o Manuel. Já com a Girassol foi impossível, porque ela senta-se por iniciativa própria e não porque eu lhe digo para sentar-se.
Como o resultado é o mesmo: ela fica sentada, achei que estava tudo bem e passei para a fase seguinte: “dá a pata”.
Comecei com o Manuel. Dizia-lhe para sentar-se – ele senta-se logo - depois pedia-lhe a pata, segurava-lhe a pata com a mão, dizia “boa”, a nossa palavra mágica que substitui o clicker, e recompensava-o. Aprendeu rapidamente.
Tentei o mesmo processo com o Google e a Girassol. Impossível! Bastava aproximar-me para lhes segurar na pata que se levantavam e recuavam assustados.
São cães muito traumatizados que ainda têm muitos medos e, penso, que terão sido vítimas de maus tratos por parte de pessoas.
Desisti de ensiná-los a dar a pata. Considero que o treino é um momento de divertimento e não quero fazer nada que os torne desconfortáveis.
Agora ando a treinar o “deita”. O Google aprendeu facilmente. O Manuel ainda não chegou lá, mas dá a pata, cheio de boa vontade.
Acho que nunca conseguirei ensiná-los a fazer as coisas fantásticas que vejo a Safira fazer. Não faz mal. Aprendem coisas mais simples e cada sessão de treino é um momento de divertimento e de gulodice – a ração quando é dada na boca sabe melhor!
“Mostra-me os teus cães e dir-te-ei quem és”. Quem sou ainda não sei, mas os cães, esses são felizes.

Passeio no Campo

Girassol e Talibocas no campo

19 de Maio, terça-feira à tarde

Ontem sentia-me zangada mas passou. Fui passear os cães e andei lá fora de vassoura na mão, não há nada melhor para desanuviar…
Mais à noite, na minha ronda diária pelos blogues favoritos, encontrei-me aqui e fiquei tão inchada de vaidade que quase nem cabia em mim! Não há zanga que resista!
Agora, acabámos de chegar do nosso passeio. Os cães aterraram, cada um na sua cama, uns lambem-se preguiçosamente, outros nem têm energia para tanto que as correrias foram mais que muitas. Vou deixá-los descansar mais dez minutos e, depois, vamos todos para o pátio. Eu vou varrer, eles vão atrás de mim.

O campo


Além dos caçadores e dos pastores, os saloios usam os cães para guardar as casas. Alguém utilizou a expressão “alarme com pelo” e acho que está muito bem empregue. Servem para dar o alarme quando alguém se aproxima. Para isso são amarrados, geralmente com meio metro de corrente, a uma casota (vá lá que têm abrigo). Deixam perto uma tina com água e vão deixando uns restos de comida.
Às vezes, esquecem-se de mudar a água que vai esverdeando, às vezes esquecem-se de deixar comida…
Desparasitantes, esterilização são palavras que não entram no vocabulário dos saloios.
Às tantas os cães morrem. Enterram-se no fundo do quintal e substituem-se por outros. O que há mais são cães!
Reconheço que este cenário tende a mudar. As sensibilidades vão evoluindo e algumas pessoas já têm conhecimentos que lhes permitem perceber que os cães devem ser vacinados, desparasitados, soltos…
Na aldeia onde moro há, pelo menos, 5 casos de pessoas que tratam bem os cães, sem contar comigo. Haverá mais, mas não conheço.
Gostaria de ter uma visão mais optimista, mas hoje estou zangada, frustrada por todos aqueles que não consigo ajudar. Gostaria de mudar-me para uma outra realidade.

Manuel


mais fotos do Manuel
Se o Manuel tivesse raça, qual seria?

Preocupo-me

esta imagem espelha uma situação real
que felizmente já foi resolvida
Na terça-feira passada, telefonei à senhora que me tinha contactado por causa das 3 cadelas que não ia levar com ela para a casa nova. Disse-me que tinha conseguido dar uma das cadelas a uma vizinha, quanto às outras duas, perguntei se já tinha pensado com quanto poderia contribuir mensalmente. Não, que ainda não tinha pensado, que depois me dizia qualquer coisa. Mas nunca mais disse nada. Penso que irá entregar as cadelas no canil municipal de Mafra.
Provavelmente, desiludi a senhora. Ela estaria a contar que eu ficasse simplesmente com as cadelas. Por mais descabido que me pareça, tenho de reconhecer que não é tão descabido assim. Por duas razões: primeiro, porque a notícia que foi divulgada na Rádio Mafra poderia levar as pessoas a pensarem assim; segundo, porque há pessoas assim, o que me leva a outro caso que gostaria de partilhar.
Há uns tempos, recebi um apelo de 3 canitos cuja dona tinha falecido. A família da dona não queria saber deles e uma amiga andava à procura de alguém que os pudesse recolher. Por acaso, essa amiga, a quem chamaremos C., é amiga de uma irmã minha, pelo que sugeri à minha irmã que falasse à C. na hipótese colocarem temporariamente os cães na Casa do Pinhal.
A minha irmã falou e contou-me o resultado: a ideia não interessava porque, mais uma vez, não havia ninguém disposto a pagar o alojamento dos cães, por outro lado, já tinham encontrado uma solução: os cães ficariam com uma senhora que já tem 70 cães.
Não disse nada mas pensei. Interroguei-me sobre a qualidade de vida desses 70 (agora 73) cães. Mesmo considerando que essa senhora tenha imenso espaço e possibilidades económicas para proporcionar aos cães alimentação e cuidados de saúde adequados – o que me parece bastante difícil, mas enfim – qual será o nível de atenção, carinho, e exercício que os cães recebem?
Lembrei-me de todos os apelos desesperados que recebo de senhores (principalmente senhoras) idosos que têm 20, 30, 50, 100 animais e que chegam a um ponto que não podem cuidar deles, porque não têm idade nem saúde, porque não têm possibilidades económicas, porque os vizinhos reclamam de tantos animais…
Lá surgem associações ou grupos de pessoas que se propõem ajudar. Passam os fins-de-semana no terreno a limpar, a distribuir comida e atenção aos animais. Fazem apelos e colectas para angariar dinheiro para as vacinas, as coleiras anti-pulgas, os tratamentos dos animais doentes…
São sempre senhores com corações de ouro que não conseguem virar as costas a um animal em necessidade. Mas, apesar de toda a bondade e boa vontade destes senhores, acabam por criar cenários de horror e pesadelo. Animais, animais e mais animais doentes, carentes, subnutridos.
Tenho um medo enorme destas situações. Agora, em vez de me preocupar com os três canitos da senhora que faleceu, preocupo-me com os 73 animais da senhora que os recolheu.

Desafio ao Leitor


Num fórum que gosto muito, existe uma rubrica chamada “Adivinhem a Raça”, onde se colocam fotografias de cães e se pede aos participantes que adivinhem qual é a raça.
Confesso que nunca faço a mínima ideia, de alguns até era capaz de jurar que não tinham raça definida, mas não percebo nada de raças!
Sempre que vou a esse fórum, tenho vontade de colocar uma fotografia do Manuel e perguntar qual é a raça dele. Claro que seria uma grande batota, porque o Manuel é um puro SRD (Sem Raça Definida) também conhecido por rafeiro (não confundir com o alentejano, que é uma raça).
No entanto, não resisto à tentação de perguntar qual seria a raça do Manuel, se ele fosse de raça? É parecido com quê?
Diga-me a sua opinião, vou adorar saber.

O meu Manuel


Soubesse eu o que sei hoje, o meu Manuel já teria sido castrado há muito, muito tempo!
Não sei se é apenas uma fase, mas acontece que desde que veio do veterinário, o Manuel está muito mais calmo. A nossa vida (minha e dele) melhorou tanto.
O veterinário tinha avisado que não deveria esperar melhorias a nível de ansiedade, que a castração funciona apenas a nível hormonal. No entanto, o Manuel está menos ansioso, mais feliz. Fico feliz também.

Até à vista, Nikita

Hoje entreguei a Nikita em casa dos seus novos donos: o João, a Ana e a Mariana. Acredito que ela não poderia ficar melhor entregue, são pessoas sensíveis, que compreendem os cães e, certamente, lhe darão o tempo necessário para ela se recompor de mais uma mudança.
Sei que a Nikita será feliz, e fico feliz por ela. Já estou cheia de saudades, a aguardar que me dêem notícias e me enviem fotos. É sempre assim. Os cães vão e as saudades ficam!
Agora, só falta encontrar uns donos igualmente bons para o Talibocas, um velhinho que já passou tudo o que tinha a passar na vida e agora só merece carinho e conforto.
Boa sorte, Nikita, felicidades.

Outros Mundos

Em Inglaterra, este senhor foi acusado e condenado por não proporcionar ao seu cão o exercício necessário nem uma alimentação adequada.
Que estranho que é para nós, portugueses, sermos informados de tal acontecimento! Neste cantinho do mundo onde os animais morrem de fome e são vítimas das maiores atrocidades, dá a impressão que esta notícia se passa noutro planeta a anos-luz do nosso cantinho. Mas não, isto acontece no mesmo planeta em que vivemos, na mesma Europa a que dizemos pertencer…
Por cá é hábito mudar de casa e deixar os animais na casa antiga, vazia, até morrerem de fome e desidratação. Por cá o novo desporto nacional é atirar cães de carros em andamento. Por cá, falar de vacinas e cuidados veterinários é falar uma língua desconhecida, inglês, talvez.

"Aqui e Agora" sobre os Direitos dos Animais

Desconheço a veracidade história desta história. Contaram-me que Carlos Magno proibiu o divórcio, tendo esta proibição dado origem ao chamado “divorcio carolíngio” que consistia na eliminação (matavam ou mandavam matar) da esposa.
Hoje, no programa “Aqui e Agora” da SIC onde se debateram os direitos dos animais, participou um caçador que dizia que os cães de caça não eram abandonados por duas razões: que dava muito trabalho e levava muito tempo “fazer” um bom cão de caça e porque o chip para cães de caça era obrigatório há cerca de 5 ou 6 anos.
Lembrei-me da história do divórcio carolíngio porque, em conversa com uma veterinária municipal acerca da obrigatoriedade do chip para os cães de caça, ela me referiu que essa legislação tinha originado cenas macabras: cães enforcados pendurados em árvores, com um golpe no pescoço por onde retiravam o chip!
Esta realidade não foi mencionada no programa, acho mesmo que A Realidade pouco foi mostrada no programa. Não por falta de esforço do Sr. Rodrigo Guedes de Carvalho que, às tantas, exclamou: “Porque é que quando faço uma pergunta me respondem como é suposto ser?”
Não fossem as imagens apresentadas, julgaríamos que não existe um enorme, gravíssimo problema com os animais em Portugal.
Com muita pena, perdi os primeiros minutos do programa, mas gostaria de ver respondida as questões: Quantas contra ordenações por abandono foram passadas, digamos, em 2008?, Quantos animais se estima que tenham sido abandonados no Verão de 2008? Existem estatísticas?
Pois, tenho muitas perguntas, demasiadas, mas sou uma pessoa que vivo essa Realidade diariamente. Infelizmente as respostas são muito poucas!
Resta-me congratular-me com a decisão da equipa do “Aqui e Agora” por terem dedicado a este tema dois programas, e pela presença do Miguel Moutinho em ambos. O Miguel é um óptimo exemplo de como um activista dos direitos dos animais deve ser: conhecedor da Realidade e das leis, com um discurso fluente, calmo, educado. Parabéns, Miguel!

Kong

O kong é um brinquedo de borracha muito resistente, cuja forma lembra uma colmeia e tem um buraco fundo de um dos lados.
Encho o buraco com paté para cães e coloco no congelador. Quando o paté fica congelado, distribuo os kongs pelos cães.
É vê-los deitados cada um para seu lado, a segurar o kong com as patas e a lamber, a lamber até ao fim. Querem cães sossegados, ocupados, divertidos? Kong!

BEM ESTAR ANIMAL SALVAGUARDADO EM SINTRA


A autarquia de Sintra elaborou e viu aprovado em Assembleia Municipal o novo Regulamento de Animais do Município que visa promover o bem-estar animal e salvaguardar os direitos de protecção de todos os animais no concelho. Feito à luz da experiência dos técnicos e das realidades distintas do município (rural e urbana), este novo Regulamento destina-se a salvaguardar os direitos de protecção de todos os animais (domésticos, selvagens e os de quinta), nomeadamente ao nível do alojamento - passa a ser condição essencial para a sua manutenção a protecção contra as intempéries, contra predadores, água a todo o tempo e, sobretudo, a possibilidade de poderem realizar os seus comportamentos naturais (ex: impedir situações existentes nas suiniculturas em regime intensivo, onde os animais mal se conseguem mexer).
Através deste Regulamento, a Câmara de Sintra assume que o apoio institucional ou a cedência de recursos, por parte da autarquia, para a realização de espectáculos com animais fica condicionado pela não existência de actos que inflijam sofrimento físico ou psíquico, lesionem ou provoquem a morte do animal. A realização de espectáculos com fins comerciais, desportivos, beneméritos ou outros em que estejam envolvidos animais, respeita o disposto na Lei e nos Regulamentos Municipais, i.e., fica sujeita ao parecer prévio e vinculativo do Médico Veterinário Municipal.
É criada a figura do animal comunitário, isto é, animais sem um detentor individual mas que se encontram protegidos num espaço público (por ex: escolas ou empresas). A permanência do “animal comunitário” passa a estar autorizada pela autarquia mediante prévia permissão. Este Regulamento incentiva ainda a esterilização de todos os animais de companhia.
Relativamente aos cães considerados perigosos, este Regulamento sistematiza os procedimentos definidos na legislação nacional (mas que estão dispersos em vários diplomas legais) em caso de agressão a pessoas ou outros animais. Assim, o Regulamento define de forma clara e inequívoca as competências dos diferentes intervenientes e os procedimentos a seguir.
Foi ainda criado um número verde para o qual os munícipes podem e devem telefonar sempre que se depararem com um cadáver de um animal na via pública.
Com este Regulamento, que entra em vigor após publicação, a autarquia de Sintra pretende contribuir para uma mudança de paradigma na relação dos seres humanos com os animais, preocupação já demonstrada com a recente a adjudicação do novo Canil/Gatil Municipal de Sintra, que ascenderá a 1.500.000€ + IVA.
Paula Colaço
Assessora de ImprensaCâmara Municipal de Sintra
Largo Dr. Vírgilio Horta
Tel: 21 923 85 02Fax: 21 923 85 72
pcolaco@cm-sintra.pt

Ao partilhar esta boa notícia, aproveito para declarar o meu apreço pela veterinária municipal de Sintra, cujo trabalho admiro e que muitas melhoria tem realizado no canil municipal.

A Luz

Há muito, muito tempo, era o meu filho uma criança, o pediatra pediu-lhe que desenhasse um menino com o máximo de pormenores que ele se conseguisse lembrar. A criança desenhou um boneco no centro de uma oval. O pediatra disse que gostava muito do desenho e perguntou-lhe o que era aquela linha oval ao que o meu filho respondeu: - A luz!
Lembro-me de ter ficado muito feliz ao saber que o meu filho se sentia rodeado de luz. Muitas vezes, também me sinto assim.
No mundo das pessoas que se preocupam com os animais, tenho tido o privilégio de encontrar amigos. Pessoas que estão sempre disponíveis para me ajudar, a quem nunca poderei agradecer o suficiente.
Uma noite cheguei a casa pelas 11 horas e encontrei a Tatonka doente. A pessoa responsável pela Tatonka estava no Alentejo. Liguei para o veterinário da Tatonka que me disse que o melhor era levá-la lá ainda nessa noite. Era quase meia-noite quando liguei para a Filipa a pedir uma boleia para o vet. A Filipa veio de Lisboa para a Ericeira, daqui para o veterinário nas Mercês, onde a Tatonka ficou internada, voltou cá para me deixar e chegou a Lisboa já passava das três da manhã.
Este é um exemplo entre muitos. Pessoas maravilhosas que fazem coisas extraordinárias! Dizer obrigada não basta, mas quero deixar aqui os meus públicos agradecimentos à Filipa, à Sara, à Isabela, à Cristina, à Gabriela, à Anabela, à Raquel…

Animais de Companhia

Na próxima 5.ª feira, 14 de Maio, o “Aqui e Agora” da SIC será sobre os animais de companhia

O Novo Mundo

Nasceu o Novo Mundo Perfeito!
Depois de uma noite como esta, merecia uma boa notícia. Partilho-a porque acho que o Novo Mundo Perfeito é como o sol: quando nasce é para todos!

O Cio


Estamos de rastos, eu e os meus vizinhos! Nunca tinha passado por isto, mas há sempre uma primeira vez.
Quem o conhece sabe que o Manuel é um cão muito especial. Tem as suas manias, é muito ansioso, muito mimado… Mas esta é inédita! Não é que o Manuel resolveu achar que o Talibocas é uma fêmea com o cio?
Pois é. Tem todos os comportamentos sexuais típicos de um macho não castrado na presença de uma fêmea com o cio.
Se o Taliban fosse uma fêmea, teria de os separar para evitar ninhadas; como é um macho, reage agressivamente (com toda a razão, diga-se) e tenho de e os separar na mesma.
Concluindo: esta noite ninguém dormiu, nem eu nem os vizinhos de cima, e, desconfio, que os moradores das casas ao lado e em frente também não dormiram.
O Manuel esteve na marquise acompanhado, sozinho, no meu quarto e, às 4 da manhã, fechei-o na garagem porque achei que seria o local onde os guinchos poderiam soar mais abafados.
Já falei com o veterinário (obrigada Dr. Luís Cruz) e o plano é: hoje passa a noite no veterinário, amanhã será castrado e, depois, faz uma medicação para o acalmar durante uns tempos. Espero que resulte.

Texto sobre o Canil Municipal de Lisboa no DN


Em média, entram sete cães por dia no Canil Municipal de Lisboa e saem apenas dois. Cinco acabam por ser eutanasiados. É a dureza dos números de uma actividade de importância fulcral para a segurança e salubridade de uma cidade. Os animais, esses, são naturalmente o elo mais fraco.
Uma imagem vale mil palavras. Mas há números que valem muitas imagens. Em cada quatro cães e gatos que dão entrada no Canil Municipal de Lisboa, três saem de lá sem vida. A maioria destes acaba por ser eutanasiada e uma pequena parte morre de doença ou causa natural. Por cada dia que passa, cinco animais acabam incinerados nos fornos crematórios do canil.
Conseguem sobreviver à arriscada experiência de passar pelo canil/gatil os animais adoptados por novos donos ou restituídos aos donos aflitos dos quais se tinham perdido. Mas não se contam apenas sortudos entre os que escapam à morte: há também os mais infelizes dos animais: aqueles que, por razões judiciais, permanecem meses, senão mesmo anos, presos no canil, em condições degradantes, à espera de uma decisão do tribunal - sim, a morosidade da justiça não afecta apenas os humanos.
Segundo dados oficiais da Câmara Municipal de Lisboa disponibilizados ao DN, em 2007, entraram no canil/gatil 2571 animais. Destes, 1361 foram recolhidos pelos serviços camarários, perdidos e vagueando pelas ruas da cidade ou em residências com condições insalubres ou desrespeitando outras normas legais.
Os restantes 1210 foram entregues voluntariamente pelos próprios donos. Em alguns dos casos, com o objectivo de os abater por estarem doentes e em sofrimento; em outros casos, simplesmente para se livrarem deles, o que na maior parte dos casos acaba por dar no mesmo: abate.
Com efeito, apesar dos esforços dos responsáveis pelo canil e de algumas associações que trabalham em parceria com a câmara - a SOS Animal e a Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais -, o número de adopções continua muito abaixo do que seria necessário. Em 2007, só 27% dos bichos que entraram nas instalações situadas em Monsanto foram adoptados. Se excluirmos aqueles que foram restituídos aos anteriores donos, a percentagem desce para 20%. E se nos basearmos nas estatísticas citadas numa carta endereçada pela Associação Acção Animal ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, só 8% dos animais entregues pelos donos ao canil são efectivamente adoptados - um número rejeitado liminarmente pela responsável pelo canil, Luísa Costa Gomes.
Abatidos não, eutanasiados. Luísa Costa Gomes não gosta de falar em animais abatidos e prefere o termo eutanasiados. O canil presta este serviço a todos os donos que pretendam pôr fim ao sofrimento dos seus cães e gatos ou outros animais domésticos - "temos a obrigação de facultar esse serviço". E, apesar dos custos elevados, presta-o gratuitamente. "Se cobrássemos, muitos nem sequer se davam ao trabalho de trazer cá os cães, abandonando-os em qualquer lado", justificou a responsável pelo canil. Assim, os cães sempre têm uma possibilidade de encontrar novos donos, dirão uns. Outros, mais cépticos, lembrarão que, dados os indicadores oficiais, essa possibilidade pode ser maior se forem largados na via pública.

Touradas

Com toda a polémica que está a acontecer sobre as touradas, quero esclarecer: não sou contra as touradas, sou contra a utilização de touros, cavalos e, já agora, quaisquer outros animais (não racionais) nas touradas!

Mais cedo ou mais tarde, havia de acontecer


Estava convencida que tinha deixado claro que a Casa do Pinhal é uma FAR que significa Família de Acolhimento Remunerada. Sou uma pessoa que gosta de cães e que gosta de tratar deles, não sou uma associação de apoio a animais abandonados.
É certo que, por vezes, recebo animais gratuitamente, mas parte de uma decisão minha, não sou, nem posso ser, uma alternativa ao canil municipal.
Ora hoje telefonou-me uma senhora que tem 3 cadelas e vai mudar de uma vivenda para um apartamento onde não aceitam animais. Era para saber se eu poderia ficar com as cadelas e até oferecia uma casota grande.
Perguntei-lhe quanto estaria disposta a pagar para tomarem conta das cadelas, mas a senhora não tinha pensado nisso. Compreendo que uma pessoa que muda de uma vivenda para um apartamento pode estar a passar uma fase de dificuldades financeiras. O que não compreendo é que passe pela cabeça de alguém que eu, que sou só uma, possa assumir as despesas de ficar com mais 3 cães! A alimentação, as vacinas, as coleiras contra as carraças, as pipetas anti-pulgas, as possíveis despesas no veterinário…
As associações podem assumir estas despesas porque têm sócios que pagam quotas, donativos, patrocínios…e mesmo assim, fazem-no com muitas dificuldades.
Combinei que segunda-feira telefonaria à senhora. Ela ficou de pensar com quanto poderia contribuir. Não acredito que o valor que vai apresentar seja suficiente. Uma das cadelas é jovem, de raça, e penso que seria adoptada facilmente. As outras duas têm cerca de 7 ou 8 anos. Não só não muito “adoptáveis”, como é de prever que venham a necessitar de cuidados médicos que, já se sabe, a idade não perdoa!
Tenho o fim-de-semana para pensar, mas, sinceramente, não sei que lhe diga.

Não Abandone

Estou a par da realidade dos abandonos de animais em Portugal. Imensas pessoas entregam os seus animais de estimação nas associações e nos canis municipais ou, simplesmente, abandonam. Atirar cães pela janela de carros em movimento parece ser o novo passatempo nacional!
Porquê? Os motivos para as pessoas se “descartarem” dos animais de companhia são vários: casamento, nascimento de filhos, alergias (é incrível a quantidade de pessoas que desenvolve alergia a pelo de cão ou de gato), mudança de casa, falta de tempo, falta de espaço… Resumindo: quando adoptam as pessoas não o fazem conscientes da responsabilidade que estão a assumir!
Depois quando decidem “livrar-se” deles, e como gostam muito dos bichinhos, tentam encontrar-lhes novos donos, o que é difícil, porque há muitos mais animais que donos disponíveis. Caso não consigam, o que acontece a maior parte das vezes, recorrem às associações. Ora todas, mesmo todas, as associações estão lotadas, muitas estão sobrelotadas! É nesta fase que entram os canis municipais que, pela sua natureza, não podem recusar a entrega de animais! Em contrapartida, pode abatê-los. Quando são animais recolhidos da via pública, a lei prevê um prazo de 8 dias para que possam ser reclamados pelos donos. Quando são entregues pelos donos, podem ser abatidos imediatamente.
Não pensem que estou contra os canis, não é verdade. Os canis não são a causa do problema, são a consequência!

O Talibocas




Adivinhem quem está de regresso à Casa do Pinhal! O Talibocas!
Estou tão contente. Estava com tantas saudades dele.
A história do Taliban, o cão do "Vietnan" (é para rimar)!
Tanto quanto sei, este cão viveu toda a vida no pátio de uma empresa em Lisboa. Alguém lhe dava comida e água e tinha uma casota só para ele. Estava a salvo dos perigos da rua, mas era tudo o que tinha.
A R., encontrou-o na empresa depois de ser atropelado. Levou-o ao veterinário onde foi tratado e ficou internado até ganhar algum peso. Felizmente, o atropelamento não tinha sido grave, mas o Talibocas tem Leishmaniose que nunca fora tratada. Estava bastante mal. Como é um velhote duro, reagiu bem à transfusão de sangue e à medicação e, quando teve alta do internamento, veio para a Casa do Pinhal.
Lembro-me da primeira vez que o vi: era um destroço de um cão. Não tinha corpo nem para receber uma festa. Tão pele e osso que até na cabeça custava acariciá-lo.


Os ossos das ancas tinham furado a pele e tinha dois grandes buracos que precisavam de tratamento diário. Atava-lhe uma gaze à volta do focinho em jeito de açaime, calçava umas luvas e fazia o penso. Mais tarde, ele conseguia tirar o penso e eu voltava a fazer.
Com o tempo o Taliban foi ficando melhor. As feridas foram fechando e só precisava de um bocadinho de pomada para desinfectar a ajudar a cicatrizar. Engordou mais de 2 kg cá em casa. Estava na hora de voltar para a empresa.
Entretanto pedi ajuda a uma amiga para encontrar uns bons donos para o Taliban. Ele revelou-se um cão muito meigo, sempre a pedir festinhas, muito apegado a mim…
Falei com a R. que me disse que ele tem estado muito triste desde que voltou para a casota dele. Assim, combinámos que ele esperaria pelos novos donos cá em casa. Estou tão contente!

Não Abandone


A Filipa

A Filipa não se chama realmente Filipa, mas vou tratá-la assim.
Ela mora num sítio onde eu não gostaria de morar. Vive num bairro problemático, paredes meias com uma comunidade de ciganos. O problema não é serem ciganos, o problema é como alguns destes vizinhos tratam os cães. Têm muitos, estão sempre a aparecer mais; uns nascem por lá porque as fêmeas não são esterilizadas (nem há qualquer tipo de controlo de saúde), outros trazem-nos das suas viagens pelas feiras do país.
A Filipa desespera ao ver os animais mal tratados, acorrentados, sem comida… De vez em quando consegue salvar um, e é uma alegria!
Esta semana tive notícias da Filipa sobre uma cadela muito pequenina e jovem que vive acorrentada junto com dois cães maiores. Como a comida não abunda, ela nunca consegue ter acesso, visto que os cães maiores ganham prioridade devido ao tamanho.
Preocupada com esta situação, a Filipa abordou o dono dos cães e pediu-lhe que a deixasse levar a cadelita para casa por umas horas. Aproveitou para lhe catar as carraças, além de a alimentar. Mas na hora de entregá-la o enorme coração da Filipa desfazia-se em preocupações. Alimentá-la uma vez não era suficiente, quem cuidaria daquele ser tão pequenino e indefeso.
Entrou em conversações com o dito dono e ele mostrou-se disposto a vender a cadelita à Filipa por 100 euros. Foi nesta fase que a Filipa entrou em contacto, preocupada com o destino da cadela e sem saber o que fazer.
Ora este caso levanta questões éticas profundas, assim como apela para sentimentos muito profundos.
Ao olhar para a bichinha, sinto uma enorme vontade de salvá-la, mas…
Não concordo com a ideia de pagar 100 euros ou seja o que for a esta pessoa. É verdade que se salvaria a bichinha, mas, por outro lado, estaríamos aa dizer a essa criatura que as atitudes dele compensam a nível económico o que até o encorajaria a voltar a fazer o mesmo com outros cães.
Ao investir o mesmo dinheiro na esterilização de 2 cadelas de rua, estaríamos a impedir que, nos próximos 10 anos por exemplo, nascessem milhares de bebés cujo destino pode ser o mesmo desta pequenina.
Acho que a única maneira de lutar contra estas situações é apostar em força na esterilização de modo a podermos mudar a realidade dos animais abandonados e de rua. Enquanto a realidade de mantiver assim, apenas poderemos salvar alguns animais, um trabalho importante e urgente, mas, infelizmente, ineficaz!
Pelas razões que apresentei, sou contra a compra de animais, porque sou contra o encorajamento do negócio de animais.

7 de Abril, quinta-feira à noite



Os dias são felizes na Casa do Pinhal. Nas horas de maior calor os cães apanham a frescura do pátio norte. Depois vamos para o pátio da frente e por ali andam enquanto eu leio ou jardino. Ao fim do dia vamos passear. Voltamos. Enquanto faço o jantar eles acomodam-se para dormir. Janto, vejo televisão e eles continuam a dormir…
Nesta hora, só se ouve o suave ressonar do Google que me embala. Acho que também me vou deitar.

Um caso desesperado



Acabo de receber um telefonema da Ana, ela está desesperada e não sabe o que há-de fazer…
A Ana é uma amiga dos animais que está sempre disponível para recolher animais abandonados e alimentar colónias de gatos silvestres. Tem 11 cães. Há cerca de um ano comprou uma casa no campo com um terreno de 5.000 m2 para que os cães pudessem viver em boas condições e tivessem muito espaço para correr.
Ainda antes de se mudar para a casa nova, enquanto construía as vedações e colocava as casotas para os cães, foi abordada pela vizinha que disse que “não queria lá cães”! Recebeu também uma notificação da câmara municipal informando que tinha sido apresentada queixa.
A Ana recorreu aos serviços de uma advogada e está a decorrer um pedido para a autorização dos cães no terreno. Já foi feita a vistoria e aguardar-se o parecer da Direcção Geral de Veterinária.
Entretanto, a Ana não continuou a viver numa casa alugada, receando mudar-se para o campo antes de ter a situação resolvida.
Os meses passam e a Ana começa a ter problemas na casa onde vive. O senhorio ameaçou chamar a polícia e o canil.
Em desespero, a Ana pensou que os animais estariam mais protegidos na casa do campo, que é dela e onde só podem entrar com um mandato judicial, que na casa alugada, onde o senhorio poderia facultar o acesso aos representantes da lei.
Assim, mudou-se para a casa de campo no sábado passado. Está a viver um pesadelo! Os vizinhos juntaram-se e disseram-lhe que não querem os cães por causa dos pelos e do cheiro, acusam-na de ser criadora de cães, ameaçaram envenenar os cães… A GNR já foi a casa da Ana, porque os vizinhos apresentaram queixa, e a Ana explicou que o licenciamento está a correr os tramites legais. Quando quis apresentar queixa por causa das ameaças de envenenamento, a GNR disse que não valia a pena, que nunca se poderia provar nada, que o melhor era resolver as coisas a bem…
A Ana está desesperada. Fecha os cães em casa com medo que lhes façam mal. Dá dó ver os animais fechados quando têm tanto espaço onde poderiam correr…
Eu gostaria de ajudar a Ana, mas não sei como.

Rádio

Afinal a entrevista da Casa do Pinhal passa amanhã nas notícias da Rádio Mafra, às 15h, 16h e 19h. Acho que também se poderá ouvir em http://www.rcmafra.net/

4 de Maio


Hoje li “Timbuktu” do Paul Auster.
A história comoveu-me por ser contada do ponto de vista canino. Comoveu-me porque não há amor como o dos cães.
Chorei.

A História do Neve que agora se chama Tomé

O Tomé foi adoptado por um casal muito simpático que está completamente apaixonado por este cachorro grande. Ele merece!
Estou a aguardar fotos do Tomé na nova casa para partilhar convosco.
Entretanto a Susana continuou à procura do registo do chip e eis o que descobriu:

  1. O cão foi chipado quando foi adoptado no canil de Sintra, mas a dona nunca deu seguimento ao registo, por isso é que não constava nas bases de dados.
  2. A Susana falou com a dona que lhe disse que o cão não estava com ela, mas, sim, com a mãe e que esta lhe havia dito que o cão tinha morrido!
  3. Após um interrogatório mais cerrado, a mãe acabou por confessar que o cão tinha fugido!

Nem vou fazer comentários a esta história rocambolesca. Não vale a pena. Apenas acrescento que o Tomé passeava comigo sem trela e nunca se afastava muito, apesar de estarmos no campo e ele poder correr por onde quisesse.
Uma vez que os donos não participaram a “fuga” do cão no prazo de 8 dias, o Tomé deixou legalmente de lhes pertencer, pelo que os novos donos poderão passar o registo do chip para o seu nome.
Esta história teve um final feliz, graças à Susana que não virou as costas quando viu este cão abandonado. Obrigada, Susana!

Não Abandone


Jardim de Cães

Girassol, a minha flor

A hora dos pavões é ao fim do dia, quando a lua sobe no céu e o sol ainda não chegou ao mar. É nessa altura que os pavões do meu vizinho emitem o seu som característico.
Consultei dois sites na net para tentar descobrir como se chama ao som que os pavões emitem, mas apenas aparece referido como “som característico”.
Hoje, à hora dos pavões, fui para o pátio da frente com um livro da Maitena e seis cães. Deitei-me na espreguiçadeira e por ali fiquei, entre a leitura e uma carícia aos cães que iam passando por mim.
De vez em quando o Manuel ou o Talibocas subiam para a espreguiçadeira e deitavam-se no meu colo. O Neve deitou-se no chão ao meu lado a roer um pau ou uma pedra. A Nikita preferiu o tapete da entrada, levantando-se volta e meia para me vir fazer uma festa. O Google e a Girassol alternavam entre zonas de sombra e zonas de sol. Eu ia lendo…Numa das vezes que levantei os olhos do livro, olhei para todos os cães deitados pelo pátio e pensei: É um jardim de cães!

Ajuda

Todos os dias recebo dezenas de e-mails com apelos de animais em risco. Geralmente, cães e gatos, mas também aparecem pombos, cavalos, burros, coelhos…
A maioria dos apelos pede famílias para acolherem estes animais, senão definitiva, pelo menos, temporariamente. Outros apelos pedem ajuda em dinheiro para fazer face a despesas veterinárias, de alojamento, de alimentação…
Um exemplo que aconteceu comigo, mas que pode acontecer com qualquer pessoa. Reparei num gato, ou gata ainda não sabia, a atravessar uma estrada muito lentamente. Estava pele e osso e tinha uma barriga tão grande que pensei que fosse uma gata prestes a parir. Podia ter virado as costas e seguido o meu caminho, mas não ficaria tranquila: aquela animal estava a precisar de ajuda.
Fui a casa buscar uma transportadora, pedia ajuda a uma amiga que apareceu com um cobertor e fizemos um cerco ao animal até o conseguirmos apanhar. Foi difícil, o gato, mesmo sem conseguir correr, escondia-se nos mais improváveis buracos, debaixo de carros, entre as silvas…
Corremos para o veterinário. Tratava-se de um macho. Estava doente mas o médico não podia adiantar nada sem fazer análises. Tínhamos de escolher entre fazer análises ou eutanasiar o bicho. Felizmente, podia dar-me ao luxo de não “contar os tostões” e não hesitei em pedir as análises.
Não me lembro o nome da doença, já foi há uns anos e era daqueles nomes compridos impossíveis de decorar.
O veterinário explicou que não tinha cura, que estava num estado avançadíssimo e que, na rua, o gato seria um foco de contágio para outros animais. A eutanásia era necessária.
Podia contar como chorei estupidamente por um gato que entrara na minha vida apenas umas horas antes, mas a “moral” desta história são os 99 euros que paguei.
A minha amiga Ana, com um coração e um bolso, maiores que os meus, assumiu essa despesa e reembolsou-me. Mas podia não o ter feito, e, nesse caso, a boa acção ter-me-ia saído cara!
Estas histórias acontecem diariamente, de norte a sul do país. Muitas vezes, as despesas implicadas ascendem a centenas de euros. É verdade que muitos veterinários são sensíveis a estas situações e fazem abatimentos nos preços, mas mesmo assim…
Quem opta por não virar as costas está a meter-se em trabalhos e em despesas. Mesmo que o animal esteja saudável, precisa de um sítio para ficar e todas as associações estão sobrelotadas. Nos canis municipais nem vale a pena pensar. Embora haja alguns (poucos) canis que não têm uma política de abate, as condições são tão más, que acho preferível pedir a um veterinário de confiança que “adormeça” o animal. Esta posição é discutível e, um dia, poderei escrever sobre ela.
Agora estou a escrever sobre a decisão que tomei de ajudar. Todos os meses reservo algum dinheiro para ajudar. Escolho um caso ou uma associação e faço uma transferência bancária. Ao escolher um, estou a rejeitar todos os outros, mas as minhas possibilidades são limitadas. Se muitas pessoas fizerem como eu, serão muitas as associações a serem ajudadas. Também há os casos das pessoas que encontram animais em risco e optam por não virar as costas: merecem ser ajudadas, mas, aí há que ter cuidado para não cairmos no conto do vigário. Acredito que a esmagadora maioria desses casos são verídicos, mas também há pessoas que se aproveitam da boa vontade alheia para encherem os próprios bolsos.
Escolher ajudar uma associação é mais seguro e, indirectamente, estamos a ajudar as pessoas que se “metem em trabalhos” porque estamos a dotar as associações de meios para poderem ajudar.

Obrigada


Nunca tinha publicado um blogue. Aliás nunca tinha publicado nada.
No início a ideia era apenas ir dando notícias dos cães hóspedes aos donos. Mas logo senti vontade de ir escrevendo outras coisas sobre cães e esta experiência foi ficando mais interessante. Obriga-me a ordenar as minhas ideias e a disciplinar-me para as escrever.
Agora, este blogue está a tornar-se algo maior que alguma vez imaginei: um espaço de relacionamento! Sinto-me imensamente privilegiada por receber mensagens tão simpáticas e carinhosas.
É um privilégio haver pessoas que lêem o que escrevo, assim como é um privilégio poder dedicar a minha vida aos cães (que merecem tudo de bom) e poder ajudar alguns daqueles (tantos) que precisam.Nem sei como posso agradecer, nem tenho palavras para demonstrar a profundidade da minha gratidão.
"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."