Preocupo-me

esta imagem espelha uma situação real
que felizmente já foi resolvida
Na terça-feira passada, telefonei à senhora que me tinha contactado por causa das 3 cadelas que não ia levar com ela para a casa nova. Disse-me que tinha conseguido dar uma das cadelas a uma vizinha, quanto às outras duas, perguntei se já tinha pensado com quanto poderia contribuir mensalmente. Não, que ainda não tinha pensado, que depois me dizia qualquer coisa. Mas nunca mais disse nada. Penso que irá entregar as cadelas no canil municipal de Mafra.
Provavelmente, desiludi a senhora. Ela estaria a contar que eu ficasse simplesmente com as cadelas. Por mais descabido que me pareça, tenho de reconhecer que não é tão descabido assim. Por duas razões: primeiro, porque a notícia que foi divulgada na Rádio Mafra poderia levar as pessoas a pensarem assim; segundo, porque há pessoas assim, o que me leva a outro caso que gostaria de partilhar.
Há uns tempos, recebi um apelo de 3 canitos cuja dona tinha falecido. A família da dona não queria saber deles e uma amiga andava à procura de alguém que os pudesse recolher. Por acaso, essa amiga, a quem chamaremos C., é amiga de uma irmã minha, pelo que sugeri à minha irmã que falasse à C. na hipótese colocarem temporariamente os cães na Casa do Pinhal.
A minha irmã falou e contou-me o resultado: a ideia não interessava porque, mais uma vez, não havia ninguém disposto a pagar o alojamento dos cães, por outro lado, já tinham encontrado uma solução: os cães ficariam com uma senhora que já tem 70 cães.
Não disse nada mas pensei. Interroguei-me sobre a qualidade de vida desses 70 (agora 73) cães. Mesmo considerando que essa senhora tenha imenso espaço e possibilidades económicas para proporcionar aos cães alimentação e cuidados de saúde adequados – o que me parece bastante difícil, mas enfim – qual será o nível de atenção, carinho, e exercício que os cães recebem?
Lembrei-me de todos os apelos desesperados que recebo de senhores (principalmente senhoras) idosos que têm 20, 30, 50, 100 animais e que chegam a um ponto que não podem cuidar deles, porque não têm idade nem saúde, porque não têm possibilidades económicas, porque os vizinhos reclamam de tantos animais…
Lá surgem associações ou grupos de pessoas que se propõem ajudar. Passam os fins-de-semana no terreno a limpar, a distribuir comida e atenção aos animais. Fazem apelos e colectas para angariar dinheiro para as vacinas, as coleiras anti-pulgas, os tratamentos dos animais doentes…
São sempre senhores com corações de ouro que não conseguem virar as costas a um animal em necessidade. Mas, apesar de toda a bondade e boa vontade destes senhores, acabam por criar cenários de horror e pesadelo. Animais, animais e mais animais doentes, carentes, subnutridos.
Tenho um medo enorme destas situações. Agora, em vez de me preocupar com os três canitos da senhora que faleceu, preocupo-me com os 73 animais da senhora que os recolheu.

Um comentário:

Ana Alvarenga disse...

Há-que racionalizar, infelizmente: não podemos acolher todos que não têm um lar. Ter um animal é uma responsabilidade, não é só dar de comer, é escovar, limpar olhos, orelhas e caras, manter as caminhas limpas, é fazer muitas festas, dar colo e muitos mimos. É passear muito e proporcionar o exercício necessário. É dar banho, vacinar, desparasitar e rezar que seja só isso, ie, que tenham muita saúde. É amar, somente.

"Sempre que um cão sai das minhas mãos para uma nova família, desejo que o tratem tão bem, ou ainda melhor, que eu. Desejo que compreendam que o cão não entra na suas vidas para os fazer felizes, mas, inversamente, a ideia é eles fazerem feliz o cão."