Em média, entram sete cães por dia no Canil Municipal de Lisboa e saem apenas dois. Cinco acabam por ser eutanasiados. É a dureza dos números de uma actividade de importância fulcral para a segurança e salubridade de uma cidade. Os animais, esses, são naturalmente o elo mais fraco.
Uma imagem vale mil palavras. Mas há números que valem muitas imagens. Em cada quatro cães e gatos que dão entrada no Canil Municipal de Lisboa, três saem de lá sem vida. A maioria destes acaba por ser eutanasiada e uma pequena parte morre de doença ou causa natural. Por cada dia que passa, cinco animais acabam incinerados nos fornos crematórios do canil.
Conseguem sobreviver à arriscada experiência de passar pelo canil/gatil os animais adoptados por novos donos ou restituídos aos donos aflitos dos quais se tinham perdido. Mas não se contam apenas sortudos entre os que escapam à morte: há também os mais infelizes dos animais: aqueles que, por razões judiciais, permanecem meses, senão mesmo anos, presos no canil, em condições degradantes, à espera de uma decisão do tribunal - sim, a morosidade da justiça não afecta apenas os humanos.
Segundo dados oficiais da Câmara Municipal de Lisboa disponibilizados ao DN, em 2007, entraram no canil/gatil 2571 animais. Destes, 1361 foram recolhidos pelos serviços camarários, perdidos e vagueando pelas ruas da cidade ou em residências com condições insalubres ou desrespeitando outras normas legais.
Os restantes 1210 foram entregues voluntariamente pelos próprios donos. Em alguns dos casos, com o objectivo de os abater por estarem doentes e em sofrimento; em outros casos, simplesmente para se livrarem deles, o que na maior parte dos casos acaba por dar no mesmo: abate.
Com efeito, apesar dos esforços dos responsáveis pelo canil e de algumas associações que trabalham em parceria com a câmara - a SOS Animal e a Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais -, o número de adopções continua muito abaixo do que seria necessário. Em 2007, só 27% dos bichos que entraram nas instalações situadas em Monsanto foram adoptados. Se excluirmos aqueles que foram restituídos aos anteriores donos, a percentagem desce para 20%. E se nos basearmos nas estatísticas citadas numa carta endereçada pela Associação Acção Animal ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, só 8% dos animais entregues pelos donos ao canil são efectivamente adoptados - um número rejeitado liminarmente pela responsável pelo canil, Luísa Costa Gomes.
Abatidos não, eutanasiados. Luísa Costa Gomes não gosta de falar em animais abatidos e prefere o termo eutanasiados. O canil presta este serviço a todos os donos que pretendam pôr fim ao sofrimento dos seus cães e gatos ou outros animais domésticos - "temos a obrigação de facultar esse serviço". E, apesar dos custos elevados, presta-o gratuitamente. "Se cobrássemos, muitos nem sequer se davam ao trabalho de trazer cá os cães, abandonando-os em qualquer lado", justificou a responsável pelo canil. Assim, os cães sempre têm uma possibilidade de encontrar novos donos, dirão uns. Outros, mais cépticos, lembrarão que, dados os indicadores oficiais, essa possibilidade pode ser maior se forem largados na via pública.
2 comentários:
Esta Luísa Costa Gomes é a escritora?
acho que não. é a directora do canil municipal de Lisboa.
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